sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

humildade

"Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria.
Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida.
E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.
Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.»

Lucas 2: 1-12

o natal é sempre um convite à simplificação da nossa vida.
um feliz natal para todos os leitores deste blogue e boas entradas no novo ano de 2007.

casita clara - paisagem



amadeo de souza-cardoso

1916. óleo sobre tela. 31 x 41 cm. centro de arte moderna josé de azeredo perdigão / fundação calouste gulbenkian

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

da carta de calcutá para 2007

"Os imensos problemas das nossas sociedades podem alimentar o derrotismo. Quando escolhemos amar, descobrimos um espaço de liberdade para criar um futuro para nós mesmos e para aqueles que nos são confiados.
Com poucos meios, Deus torna-nos criadores com ele, onde as circunstâncias não são favoráveis. Ir ao encontro do outro, por vezes de mãos vazias, escutar, tentar compreender; e eis que uma situação bloqueada se pode transformar.
Deus espera-nos naqueles que são mais pobres do que nós. «O que fizestes a um destes mais pequeninos, foi a mim que o fizestes.»
No Norte e também no Sul, enormes desigualdades alimentam o medo diante do futuro. Alguns, com coragem, consagram as suas energias a modificar estruturas de injustiça.
Interroguemo-nos, todos nós, sobre o nosso modo de vida. Simplifiquemos a nossa existência. E encontraremos disponibilidade e abertura do coração para com os outros."

irmão alois, de taizé

sábado, 25 de novembro de 2006

"a alma que eu tenho"

A alma que eu tenho
Cheia de tudo e nada
É incerta de tamanho
Início e fim da estrada.

O que sinto e amei
Ao longo da viagem
Esparsamente deixei
Da alma uma imagem.

O que por cá se quebrou
Estilhaços do coração
Foi alguém que amou
Fora da minha razão.

Esta viagem intermédia
Ponte da alma e do ser
É caminho bem lento
Para um mundo a haver.

ricardo pereira

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

compreender a incompreensão

o meu pai e eu partilhamos o mesmo hábito. quando alguém diz algo e não o entendemos, sorrimos, anuímos e seguimos em frente. se não me compreendem tantas e tantas vezes porque hei-de compreender sempre o que os outros me dizem. eu compreendo a incompreensão. e vivo bem com isso.

de repente

tive saudades de quando tinha namoradas que me ofereciam livros de poesia.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

do blogue que tem o nome que estive quase quase a escolher para ser o nome do meu blogue

os caros leitores sabem que não sou "blogosfeiro". não sou de mandar mensagens nem recados a toda a hora para os comparsas deste sub-mundo. mas há uma pessoa a quem não resisto a renovar as boas-vindas. amiga cláudia, seja bem-aparecida!

domingo, 19 de novembro de 2006

lazeira

durmo a tarde toda. profundamente. acordo e sorrio. lembro-me de pessoa e da alegria que pode ser "ter um livro para ler e não o fazer". descanso a cabeça. retempero as forças. é tão banal e tão essencial ao mesmo tempo. à moda da minha terra. uma tarde de lazeira. ou será lanzeira? tenho de investigar.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

dos outros

"(...)
- sabe carlos... com o tempo eu fui-me apercebendo que as pessoas sofrem muito e não precisam de nós para aumentar o seu sofrimento. viver é muito difícil, é muito breve e... as pessoas têm tantas coisas boas... talvez a minha bondade não seja muita mas... julgo que...
- esforça-se por encontrar mais bondade em si!
- acho que julgo que entendo sem julgar melhor. entendo sem julgar.
(...)"

antónio lobo antunes
entrevista a carlos vaz marques
programa "pessoal e... transmissível"
15 de novembro de 2006

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

era bom



ter a certeza que era assim. que a vida podia mudar num minuto. e o mundo lá fora me esperava. para travarmos um combate pela vida. e eu sair vencedor.

sábado, 11 de novembro de 2006

quando a saudade aperta

eu sinto amor



para o samuel mira, a.k.a. sam the kid, que parece que vai lançar um novo trabalho.

terça-feira, 31 de outubro de 2006

tocar ao frio



sigur rós @ öxnadalur, islândia (28 de julho de 2006)

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

alquimia



não podemos sentir esta alegria em todos os concertos. na sexta-feira passada, os linda martini encheram o santiago alquimista de pessoas e de um som poderoso. é sobretudo música inteligente. música de quem gosta muito de música. para quem tocar é estar ali a partilhar uma imensa alegria com o público. foram minutos inspirados e inspiradores. música que faz pensar e sentir. despertar os sentidos. o álbum está mesmo quase aí e apenas resta confirmar se a gravação é da mesma qualidade do que nos foi apresentado junto ao castelo. alguns versos que me surgiram durante o concerto, perante a saudade de outros tempos, foram:

naqueles dias eu queria que o meu amor
por ti fosse o maior do mundo
mas vinha a noite
(era sempre noite)
e nunca amanhecia

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

salmo 137 (a propósito da entrevista de Lobo Antunes, ontem à noite)

Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar,
recordando-nos de Sião.
Nos salgueiros das suas margens
pendurámos as nossas harpas.
Os que nos levaram para ali cativos
pediam-nos um cântico;
e os nossos opressores, uma canção de alegria:
"Cantai-nos um cântico de Sião."
Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor,
estando numa terra estranha?

Se me esquecer de ti, Jerusalém,
fique ressequida a minha mão direita!
Pegue-se-me a língua ao paladar,
se eu não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém
a minha suprema alegria!

Lembra-te, Senhor, do que fizeram os filhos de Edom,
no dia de Jerusalém, quando gritavam:
"Arrasai-a! Arrasai-a até aos alicerces!"
Cidade da Babilónia devastadora,
feliz de quem te retribuir
com o mesmo mal que nos fizeste!
Feliz de quem agarrar nas tuas crianças
e as esmagar contra as rochas!

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

saca de café, queluz

reconheço o teu sorriso, amiga
escuto contigo as palavras dos homens
por entre o fumo e o porto e o café
tertuliamos no silêncio de quem olha
na surpresa da cultura que aqui mora

tão perto dos teus quatro caminhos
ouvimos a poesia sem demora

A importância de uma mão

Já pensaste, meu amor, na importância
De uma mão?
Antes de pegar a tua mão quantas vezes
Vagueei como uma água sem destino,
Quantas vezes vacilei nesta cidade ferido?
Era um pássaro sem sentido que tinha
Acordado no deserto sem diferenciar
Coisa alguma, sem olhar nenhum ponto
Como se o céu estivesse vazio.
Já pensaste se não fosse a tua mão?
Esse fogo sem medida que se ordena
Na alma e nos puxa para dentro do rio
Como se agora as águas já não se dispersassem
Mais. E os pássaros que voltaram do deserto?
A tua mão foi o meu farol, foi a semântica que
Hoje convoco do sangue para te escrever no
Poema. Percebes agora o acto de pegar a tua
Mão, simples e doce, como a criação o foi
Bem antes de nós? Percebes, amor, que o acto
De pegar na tua mão mudou o mundo e será
Lembrado até que a morte nos separe e talvez
Bem mais para além dela?
Tinha muitas prendas que te queria dar: uma
Flor, uma lua embalada, um perfume que gostasses
Um palácio onde os trovadores declamassem
Eternamente debaixo das estrelas.
Mas não te quero dar nada, uma mão chega
Para enganar a morte, uma mão basta. E depois
Nunca me entenderias se te desse algo que amanhã
Já não existiria.
Compreendes amor, a importância de uma mão?
Esse acto voluntário que sucede ininterrupto
Pela nossa vida de escolhas? Deste-me a tua mão,
Eu dou-te a minha mão e seremos felizes no
Deserto mais seco da terra, no abismo mais escuro,
No céu mais cinzento, no mar mais revolto.
Não tenho acesso ao interior da tua mão, não
Sei do que é verdadeiramente feita. Fico-me
Só pela sensação de te tocar e de olhar a minha
Mão na tua…


Ricardo Pereira

domingo, 15 de outubro de 2006

além de tudo

digo que gosto de ti. e isso basta para te amar?

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

meditação sobre a praxe

hoje, no comboio, duas miúdas da faculdade de letras envergavam o seu traje académico. discorreram sobre todas as divertidas praxes que iriam pôr em prática durante este dia mas a conversa apenas aqueceu quando se tratava de discutir as boas maneiras no uso do traje. o que me faz pensar que, apesar de viajarem no comboio da linha de sintra, tão distantes da tradicional praxe coimbrã, no fundo, toda a gente precisa de regras. até as alunas da faculdade de letras.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

dos amigos que se foram perdendo

prefiro dizer-te mil vezes - mudaste - do que dizer-te - já não és o mesmo.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

dona la pace

a paz é isto: deixas de uma forma muito simples que o amor tome conta de ti. ou então vai mais longe e ama duas vezes. perdoa. e no perdão está a paz infinita. sim, o mundo é injusto e a vida, às vezes, uma grande merda. mas perdoa. ama duas vezes. não hesites. respira fundo. engole o teu orgulho. e a paz estará contigo.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

da ciência arquivística

há meses que tenho um papel escrito por ti na minha carteira. não o posso tirar de lá porque simplesmente não sei onde o arrumar. sei a proveniência do documento mas não tenho como o classificar. rompe a ordem da minha vida. não tem lugar no meu arquivo. e por isso tornou-se errante e acompanha-me para todo o lado. chamo-lhe "documento provisório".

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

aforismo

é infinitamente melhor olhar para a frente do que olhar para baixo.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

asneiras

fazemos asneiras atrás de asneiras e a vida vai-se tornando um sonolento somatório de asneiras. acreditamos mesmo assim que tudo vai correr bem. as coisas só podem correr bem. como se vê, o meu livre-arbítrio é constantemente ultrapassado pela confiança. enfim, a fé move montanhas mas não impede o asneiredo. haja fé. e asneiras.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

alvorada

acordo. o quarto na penumbra. pensamentos soltos. insisto de repente numa ideia. fixo-a. até que decido e sorrio. vou tomar banho.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

o olhar dos outros

olhar pelos teus olhos não é exactamente o mesmo do que me colocar no teu lugar. não percebes que tento ir mais longe. tento ver o que tu consegues ver. tento sentir o que estás a sentir. o teu lugar é essencialmente social. o teu olhar é parte do teu espírito. e eu ouso pensar que poderei um dia lá entrar. partilhar o teu espírito. ou outra forma de te amar.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

recepção

saber receber alguém na nossa casa é um acto de civilização. partilhar o pão e dividir o vinho. deixar a porta entreaberta e um lugar eterno à mesa. seja bem-vindo quem vier por bem.

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

a outra face de jesus

teria jesus outra face para me dar
um decidido sorriso de amigo
um ombro em forma de abrigo
nos dias em que me esqueço de amar

teria jesus outra face para me dar
quando finjo que o desconheço
e hesito num profundo silêncio
em fechar os meus olhos e rezar

teria jesus outra face para me dar
se eu apenas tenho este rosto plano
e nele deposito todo o meu engano
e caminho de olhos postos no mar

quando eu não o amo e vejo a luz
que alumia esta minha escuridão
respondo sem palavras à questão
porque vejo a outra face de jesus

ausência

não te posso aquecer, amor
o teu frio é um fogo que não sei apagar
a noite cai, ó meu amor
a noite cai e eu não irei estar ao pé de ti
não te posso abraçar
não estou aqui

sou só ausência em mim

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

das salsichas enlatadas e seus consumidores

há blogues onde me chamam ecuménico sem talvez saberem o que isso quer dizer. há pessoas que me julgam pelo meu blogue apesar de nunca me terem realmente conhecido. e eu, perante isto, o que digo?
pouco posso dizer, caros amigos. há pessoas que valem nada ou tão pouco que mais parecem dias de chuva no meio das férias de verão. um grande aborrecimento que se supera com um bom livro ou uma boa conversa. ou um belo almoço enquanto a chuva sibila no mar. ou seja, essas pessoas não têm importância. reforçando a expressão: não têm importância nenhuma.

os mais atentos dirão que este post lhes confere alguma importância. é certo. mas o nada também tem a sua narrativa. e esta conversa já é longa, caros amigos. começou com umas cartas anónimas na era pré-internet, com uma escrita bastante criativa. o que pode ser mais reles do que alguém que nos envia cartas anónimas?

terça-feira, 12 de setembro de 2006

do "náine iléven", como se escreveu na voz do deserto

a única certeza que tenho sobre o onze de setembro é o número brutal de vítimas. uma tragédia indizível. um horror. tudo o mais: culpados, estratégias, o presente e o futuro da luta anti-terrorista, as intenções do extremismo árabe e dos estados unidos, etc - são dúvidas que me assaltam a cada documentário que vejo, entre as dezenas que têm passado nas televisões portuguesas. a polémica coloca-me dúvidas. há muita coisa por explicar. muita coisa mesmo. rezemos então pelas vítimas. pouco mais há a fazer por ora. sou afinal hoje uma vítima da informação. uma vítima sim mas sem a sua fé abalada.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

volver

volver, de pedro almodóvar, é um filme soberbo. não me parece que chegue ao nível de habla con ella mas está certamente no mesmo patamar do genial todo sobre mi madre. a cena em que "raimunda" volta a cantar (na foto) toca no mais sublime que o cinema nos pode dar. volver é uma história de amor entre mulheres, num mundo em que os homens as desiludiram e traíram. é uma narrativa de reencontros, de ilusões que nos encantam, de momentos deliciosos de comédia e de drama, numa mistura que só almodóvar parece saber fazer. carmen maura regressa em alto nível e penélope cruz revela-se uma actriz que ficará certamente eterna.

é sempre preciso voltar. o passado precisa continuamente de ser reinventado. porque o amor subsiste. porque o amor acaba sempre por vencer.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

estamos à do jorge branco

cantar pela noite fora com os amigos. juntam-se estranhos. ajudam ao cante. as vozes não secam. molham-se as gargantas. e a cantar afastam-se tristezas.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

vende tudo e segue-me

deveríamos todos um dia ver o nosso lugar ocupado, o nosso lar devassado, a nossa mala vazia, o nosso computador partilhado. perder não faz mal nenhum. sabe bem aspirar à simplicidade das coisas. ter pouco para ser muito. este é o meu idealismo para hoje.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

deste blogue

escrevo e reescrevo o post. auto-censuro-me. duvido. volto atrás e avanço. acredito. um diário íntimo como este é sobretudo uma prova de fé.

terça-feira, 5 de setembro de 2006

good morning

era uma outra forma de te amar
um gesto no escuro uma carícia
que se prolonga até ao teu acordar
um bom dia em forma de beijo
a tua respiração adormecida
era uma outra forma de te amar

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

destinatário

antes cuidava dos endereços letra por letra, número por número. verificava cuidadosamente se não havia erros. hoje, quando te mando uma carta, isso pouco importa. não me interessa se o carteiro te irá encontrar. estás em toda a parte. as minhas palavras já não vão escritas. elas voam e o envelope flutua. encontrar-te-á numa qualquer eternidade. tenho a certeza.

domingo, 3 de setembro de 2006

subitamente

diz-me apenas se aquele sorriso trazia a claridade do amanhecer ou a escuridão da noite. diz-me apenas o que significava essa tua expressão. o que diziam os teus olhos. porque me olhaste assim. quero dormir. diz-me, por favor.

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

o teu nome

o problema da poesia não é a rima ou os versos interpolados. é saber como respiramos a ler um poema. por quantos segundos conseguiremos suster a respiração antes da aparição do teu nome.

quinta-feira, 31 de agosto de 2006

só vou gostar de quem gosta de mim

"de hoje em diante vou modificar
o meu modo de vida
naquele instante que você partiu
destruiu nosso amor
agora não vou mais chorar
cansei de esperar, de esperar enfim
e pra começar eu só vou gostar
de quem gosta de mim

não quero com isso dizer que o amor
não é bom sentimento
a vida é tão bela quando a gente ama
e tem um amor
por isso é que eu vou mudar
não quero ficar
chorando até o fim
e pra não chorar
eu só vou gostar de quem gosta de mim

não vai ser fácil, eu bem sei
eu já procurei, não encontrei meu bem
a vida é assim, eu falo por mim
pois eu vivo sem ninguém"

caetano veloso

back and forth



"me and you and everyone we know" de miranda july transporta as palavras simples do amor. um desejo infinito de felicidade. o surrealismo do amor por entre os meandros da net, dos centros comerciais, dos empregos inúteis. amar torna-se assim um urgente desejo do absoluto. de transgressão da imaginação que resta. do absurdo em que uma vida de solidão se pode tornar. é um convite ao amor.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

ordem e pó

há um conflito eterno entre o pó e a ordem. os livros têm pó e uma ordem. os discos têm pó e uma ordem. quando se tira o pó, perde-se a ordem. e depois fica-se até às duas da manhã a arrumar tudo novamente. e mesmo sem pó a ordem original não regressa. instala-se o caos. fica a limpeza e a ordem foi-se.

de que serve a pureza das coisas quando se perde o sentido das mesmas?

terça-feira, 29 de agosto de 2006

1300 km depois

há uma planície infinita e um mar imenso. um sol rasante que me queima as pernas e a face. muitos sorrisos. noites mal dormidas. madrugadas quentes. som em altos berros. mudanças mal metidas. peles morenas. areia fina. árvores descabeladas. surpresas ao pequeno-almoço. jantares que se eternizam. copos altos e baixos. o vento quente do sul. a nortada também. há pneus a rasgar a terra batida. buracos e mais buracos. fumo de vário género. os braços dos amigos. a juventude. a alegria das férias e das canções. a fuga. esta foi a minha fuga.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

antes de as férias se acabarem, uma certeza

ser capaz de dar tudo por uma pessoa. de perder tudo. de dar a vida. esse é o único amor.

sábado, 29 de julho de 2006

bendito sejas, santo agostinho

saio alegremente para férias. vou para a praia e para o campo na companhia de amigos, família, etc, etc. estas férias terão de tudo um pouco e espero que tenham sobretudo muita evasão. as férias são basicamente isso: fugir. não digo que nessa fuga não tenhamos encontro marcado com muitos sítios e locais. mas quem repete a sua vida quotidiana nas férias, não está de férias. está apenas noutro sítio. estar de férias é querer fugir e, ao mesmo tempo, estar disposto a encontrar coisas novas. simples, não é?

desejo a todos umas boas férias! volto em setembro.

terça-feira, 25 de julho de 2006

voice mail

o que eu mais gostaria de ouvir de ti era a confissão de que me telefonas sempre que sabes que não está ninguém na minha casa. apenas para ouvires a minha voz na gravação. o amor seria feito desses pequenos pormenores.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

do final do evangelho de joão

Depois de terem comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?» Pedro respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta os meus cordeiros.» Voltou a perguntar-lhe uma segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-me?» Ele respondeu: «Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu amigo.» Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas.» E perguntou-lhe, pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu és deveras meu amigo?» Pedro ficou triste por Jesus lhe ter perguntado, à terceira vez: 'Tu és deveras meu amigo?' Mas respondeu-lhe: «Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que eu sou deveras teu amigo!» E Jesus disse-lhe: «Apascenta as minhas ovelhas. *Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais novo, tu mesmo atavas o cinto e ias para onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levar para onde não queres.»
E disse isto para indicar o género de morte com que ele havia de dar glória a Deus. Depois destas palavras, acrescentou: «Segue-me!»
Pedro voltou-se e viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, o mesmo que na ceia se tinha apoiado sobre o seu peito e lhe tinha perguntado: 'Senhor, quem é que te vai entregar?' Ao vê-lo, Pedro perguntou a Jesus: «Senhor, e que vai ser deste?» Jesus respondeu-lhe: «E se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso? Tu, segue-me!»
Foi assim que, entre os irmãos, correu este rumor de que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse que ele não havia de morrer, mas sim: «Se Eu quiser que ele fique até Eu voltar, que tens tu com isso?»

Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu. E nós sabemos bem que o seu testemunho é verdadeiro.
Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os livros que se deveriam escrever.

domingo, 16 de julho de 2006

a tua janela

durante muitos anos, sempre que passava perto da tua rua, reconhecia a tua janela. era fácil: bastava contar o número de janelas desde que a fila de prédios começava até vislumbrar luz ou a altura das persianas. mas hoje esqueci esse número, e ao passar nessa rua, relembro que, para além de já ali não morares, nem sequer sei de que janela se trata. é este o princípio e o fim dos hábitos. uma questão de memória.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

aniversário

ontem cumpriram-se três anos desde que entrámos no maravilhoso mundo da blogosfera. Até há dois anos estivemos no blogue "ao longo da avenida" e depois neste "na margem da alegria". o que dizer? olhem, já tive mais tempo para isto! que me perdoem as duas ou três pessoas que me lêem. não tenho podido escrever mais. obrigado aos amigos que têm blogues pelo que me inspiram. os nomes estão na coluna da esquerda. leiam-nos. eles valem a pena.

terça-feira, 11 de julho de 2006

mailbox

não ter um endereço de correio electrónico é, nos dias de hoje, o mesmo que não morar em parte alguma. não ter casa. ser um sem-abrigo na noite do choque tecnológico.

da relação directa com a escritura

o evangelho de joão não sai da minha cabeceira há meses. o fiozinho vermelho que serve de marcador assinala o encontro de jesus com a samaritana: em espírito e em verdade é que se adora. joão, o evangelista do amor, faz-me redescobrir, em cada noite, o mistério daqueles homens e mulheres.

cheira mal, muito mal

saudamos efusivamente o regresso dos mal-cheirosos à actualidade blogosférica nacional.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

adieu

Haverá vento ainda haverá vento?
O ramo do salgueiro à noite sobre o Sena
acena-me que sim
E neste extremo de ilha à dor posterior
por momentos esqueço-me de mim
A noite existe e a vida vale este momento
Verdes colinas de África jardins ó vida que se quer
mistério de mulher como a possível estrada
aberta à dor intransmissível de não dar
a confusa cabeça à prometida madrugada
Nascer morrer por dentro o que se for por fora
A hora é decisiva como um sacramento
Cão de verdade à ponta do nariz
eu cumpro o meu dever de conhecer Paris
e cada verso meu imola uma pessoa

ruy belo
"guide blue", vita beata in boca bilingue

segunda-feira, 3 de julho de 2006

terça-feira, 20 de junho de 2006

a garrafinha de água

qual apêndice da pós-modernidade, tudo anda com a sua garrafinha de água atrás. seja para emagrecer (vide receitas para um verão mais estético da Nova Gente), seja por qualquer outra razão, não se pode hoje existir sem ter a garrafinha sempre consigo. o cúmulo e o absurdo desta paranóia colectiva vivi-os esta manhã quando, à saída do metro, quase fui atropelado por uma esbelta menina. pensei: vai ter um exame na faculdade. e não é que a vejo a dirigir-se na máxima velocidade para um dos cafés da estação. tanta corrida por um café? não. era por causa de uma garrafinha de água. garrafinha, quer-se dizer, garrafona. tinha um litro e meio do líquido precioso.

critério de aferição



quando já não houver nada que diferencie as pessoas, a minha distinção será entre quem gosta e quem não gosta de sigur rós.

sábado, 17 de junho de 2006

linha de sintra (cont. devido ao blogger)

pouco depois começa uma brincadeira com bonés da selecção nacional. o miúdo ri. ri muito. ri de uma maneira muito engraçada. daqueles risos que contagiam. e ela ri também. ri ao mesmo tempo que chora. e ao rir fica ainda mais bela (como se isso fosse possível). e eu tenho de sair. a família sai também. espero que as lágrimas não voltem. o éfemero tem destas coisas. perdemos sempre as cenas dos próximos capítulos.

linha de sintra (cont.)

numa das estações seguintes entra uma família pobre de espírito. o mais novo assim que se sentou levou logo uma estalada. chora também. tem olhos azuis.

linha de sintra

sentada no comboio, é bela e chora. mas se digo bela não é apenas porque a sua beleza me transtorna. é bela porque mais bela não tenho visto. a aliança movida para o dedo do lado. as lágrimas correm.

sexta-feira, 16 de junho de 2006

solução final

o problema. o problema é o amor.

domingo, 4 de junho de 2006

o país à beira do mundial #3

um homem, de cabelo apanhado e blusão grosso, vasculha os caixotes de lixo. recolhe apenas um saco. continua avenida acima.

o país à beira do mundial #2

na minha rua não vislumbro estantes com livros através das janelas dos vizinhos. vejo apenas, por entre as persianas semi-cerradas, a luz do écran de televisão. permanentemente aceso. como uma luz que não deixa ver mais nada para além dela.

o país à beira do mundial #1

uma corda com três bandeiras atravessa a minha rua. como a colocaram? ainda não percebi. tem a altura de um quarto andar unindo os dois lados da avenida. no centro a bandeira nacional. de um lado a bandeira angolana, do outro a brasileira. que monotonia era a minha rua há dois anos atrás, apenas a verde e vermelho.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

para quê uma oposição?

no dia em que o governo anunciou o novo"regime de mobilidade dos funcionários da administração" que aparentemente pode vir a criar um novo paradigma quanto à relação entre o estado e os seus funcionários, o psd anuncia uma proposta sobre um curioso "dia nacional do cão". com opositores destes...

terça-feira, 30 de maio de 2006

entrar em pânico

é quando está toda a gente à volta de uma recém-nascida e alguém se vira para mim e diz: "eu quero uma coisinha destas!"

segunda-feira, 22 de maio de 2006

uma forma de te conquistar

do que eu precisava era de uma tarde. uma tarde simples, calma e lúcida. uma tarde contigo e comigo. uma tarde de palavras quentes e gestos tímidos. na erupção de uma vida nova.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

pós-socialismo

é a indecência de uma greve à sexta-feira.

terça-feira, 16 de maio de 2006

música para estes dias

Wake me up, only nightmares take me in
through these walls the winter bites, a draft from all sides.
Why did you not include me on your list?
Let me in through the ceiling. White lips kissed.

Our love is a fickle love,
keeps itself locked in a suitcase.
To be ready to go always.

I won't cry when the silver lining shows,
but you're right, you understand, you ride with both hands.
Worrying is the breathing that you need,
So there won't be far to fall, you mustn't climb tall.
Things that are supposed to mean lots, leave you cold.
And with a malady of the soul.

Our love is a tricky love,
bet you know this, bet you noticed.
Bet you know, which is why.
I should know better than anyone ever could.
Soon as I let go, everything falls apart.

I won't cry when the silver lining shows,
but you're right, you understand, you ride with both hands.
Worrying is the breathing that you need,
So there won't be far to fall, you mustn't climb tall.

Wake me up, only nightmares take me in
through these walls the winter bites, a draft from all sides.
Of course you can, there are diamonds in demand,
It's a shame and as you know the stain will not go.


mew - "white lips kissed"

quarta-feira, 10 de maio de 2006

fim de tarde em tons de azul

várias solidões sobrepostas e a dúvida de saber se deixaste de existir no último dia em que te vi.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

fórmula para um dia destes

pudesse eu dar-te a força que pareces não ter. não suporto que não pareças sentir a minha energia. tento pôr-me no teu lugar. repenso e tento de novo. falo contigo devagar. oiço chorar por detrás do telefone? descubro depois, uma vez mais, a fórmula exacta do amor. estar lá quando tudo parece ruir à tua volta. desejar muito que também em mim estejas quando te falar com a mesma voz tímida e triste. um dia destes.

a tua voz ao telefone

ouvir-te. relembrar-te. sentir-te.

quarta-feira, 3 de maio de 2006

dobrada em quatro

amar a tua letra como se não tivesse mais nada para amar. um sentimento revelado na caligrafia deste papel que trago na carteira. carta sem perfume. palavras sem cheiro. tinta azul do céu.

terça-feira, 2 de maio de 2006

passeio domingueiro

sais da água e eu na margem. eu sempre na margem. o teu cabelo e o sol são um só. a beleza desses segundos não sai de mim. fiquei na margem.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

quarta-feira, 26 de abril de 2006

sinal do tempo

é o ar limpo pelo inverno que anuncia agora o verão. pode inspirar-se e expirar-se. transpira chuva e vida e verde.

da desilusão

sermos tudo e afinal nada. pouco mais que uma desilusão, uma noite mal passada, algumas lágrimas circunstanciais. ser afinal a vida breves momentos desgarrados onde a soma das partes é nula. a definição da desilusão. a negação dessa outra vida que nos iludiu.

sexta-feira, 21 de abril de 2006

primeira visita

voltar a entrar naquela casa. na minha casa. ter pudor de lhe chamar minha. de ela ter sido sempre minha e de todos os que chamei meus. mas não lhe poder chamar minha assim. e de repente me sentir verdadeiramente herdeiro de tudo o que me antecedeu. ser eu afinal o fim e o princípio daquela casa. a sua morte e a sua ressurreição.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

guadalupe

foi na velha ermida que nos abraçámos ao amanhecer. a brisa alta dos campos respirava por entre nós os dois. o dia começava ou terminava? o que dizer perante tanto silêncio?

quarta-feira, 12 de abril de 2006

rumo ao sul



boa páscoa. até terça ou quarta.

páscoa

Então Pedro e o outro discípulo sairam e foram ao túmulo ver o que se passava. Iam a correr juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Inclinou-se para ver e reparou que as ligaduras estavam no chão, mas não quis entrar. Logo a seguir chegou Simão Pedro. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver as ligaduras no chão e o pano que cobria a cabeça de Jesus dobrado a um canto e não misturado com as ligaduras. Depois entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro. Viu e acreditou. Na verdade ainda não tinham entendido a Sagrada Escritura, segundo a qual Jesus havia de ressuscitar. Depois disto os discípulos foram-se embora para casa.

joão 21: 3-10

quinta-feira, 6 de abril de 2006

mailbox

receber um postal teu já não é o mesmo que receber-te. passou demasiado tempo. a tua caligrafia não substitui os teus gestos. o cheiro do papel não é o mesmo do teu perfume. mandas-me um postal e tu já não vens nele. este é o princípio e o fim de tudo.

guardo o teu postal. como todos. mas já não sei onde te esconder.

quarta-feira, 5 de abril de 2006

oh as casas

o que é preciso para chamarmos "nossa" a uma qualquer casa. para mim, livros, muitos livros. poucas fotografias. algumas de quem já partiu. uma sombra. uma luz a entrar timidamente. mesmo muito timidamente. um cheiro doce. como cera do soalho. uma respiração. uma música. muita música também.

a casa velha agora nova

lembro-me daquele poial onde a brisa quente era como um hálito no meu pêssego de verão. lembro-me das tardes de calma em que estava proibido de sair à rua. deitava sempre sangue do nariz. obrigavam-me a dormir. não pregava olho. fazia-me confusão aquele silêncio apenas interrompido pela cigarras. se a vida estava lá fora, com os moços e as pedras, como poderia dormir? um dia cercaram-me e bateram-me. eu não era dali. aprendi nesse dia a lição sempre útil da maldade humana. depois chorei e não me lembro de ali voltar. aquele beco passou a ser interdito. para isso mais vale dormir.

dito e feito

hoje volto a ser anti-benfiquista. sempre.

segunda-feira, 3 de abril de 2006

poema breve de verão

era naquele muro de tijolo burro e cal sumida
que eu media a minha altura a cada sucessivo verão
um dia vi o que se via para lá da vida
o guadiana um campo imenso de oliveiras velhas
e encardidas dançando suavemente com o suão

quinta-feira, 30 de março de 2006

pergunta seguida de resposta

agora flutuamos. pairamos como a neblina. quando foi? posso dizê-lo. talvez por nunca mais te ter visto depois do tempo. não me lembro.

babel

sabíamos dizer o amor. esquecer uma língua é outra forma de morrer.

terça-feira, 28 de março de 2006

pensamento do dia

o meu ecumenismo confesso (sim, acredito que um dia a religião vai apenas religar e não mais dividir) termina na 2ª circular. um bom sportinguista é sobretudo um exímio anti-benfiquista.

choque tecnológico

o novo vocabulário é tanto que ao pedir ao meu pai que desse um recado à minha mãe ouvi a resposta:
- manda-lhe um "emanuel" [entenda-se e-manuel] ou "imél" ou lá o que é isso.

domingo, 26 de março de 2006

wake up

acordo ainda com o teu sabor. sonhei que te beijava pela primeira vez. tenho a certeza que os teus lábios são assim como os sonhei. tal como são ternos os teus abraços madrugada fora.

sexta-feira, 24 de março de 2006

fall semester



would you please forgive me if i found my way back home

the get up kids

dúvida

o que restou de um poema

desta vida caminho para o sol
e nunca estive tão perto de casa
como nas manhãs em que a cidade
acordava preguiçosa e a sua voz surgia
vinda da noite trazendo a paz dos dias
vagarosamente silenciosos
na sua varanda do tamanho do mundo

limite

não posso escrever a tua ausência. este é apenas um dos limites da linguagem.

terça-feira, 21 de março de 2006

dia mundial da poesia

(...)
Quão fácil era ao corpo a sepultura
mas nós os que dos peixes somos
os que com a tormenta afinal todos nos perdemos
temos por simples pátria a língua portuguesa
e por isso por arma temos estar de pé
opor ao sol a face incorrigível
e darmos a palavra aos que não têm voz
pois ao silêncio os têm submetidos
Poema de palavras não de paz mas de pavor
Construção linguística difícil aparentemente
em que em troca da vida e do triunfo me tornei teu ínfimo cultor
sob essa superfície de impassível frialdade
sei que se oculta a voz não da humanidade
palavra do mais dúbio dos significados
mas dos homens que dostoievski viu ofendidos e humilhados
Quente e humana embora na aparência fria
que a todos se destine a poesia

ruy belo
"primeiro poema de madrid"
transporte no tempo
1973

quarta-feira, 15 de março de 2006

insónia

e de repente reencontro-te através do teu blogue. conheço a tua nova vida.

terça-feira, 14 de março de 2006

absurdo

que primavera é esta que traz a morte?

dois versos que dizem tudo

o meu maior medo é um dia
a minha mãe não mais acordar

segunda-feira, 13 de março de 2006

in memoriam - a.c.l. (1957-2006)



o meu professor morreu no primeiro dia da primavera.

a única estação

saio de casa e qual não é o meu espanto: o inverno acabou. cheira a verão. o verão chegou.

quarta-feira, 8 de março de 2006

partir/ficar

era de manhã bem cedo. uma manhã luminosa e quente de agosto. arrumámos as nossas coisas. tu arrumaste as tuas, porque eu apenas fingi. não era capaz de mexer numa só peça de roupa. num só objecto. fazíamos as malas para partir e isso era a última coisa que eu queria. entrei na tua tenda. deitei-me ao teu lado. afinal agora recordo que ainda não tinhas guardado tudo. levei o meu saco-cama para junto do teu. abracei-te. cheirei o teu cabelo. ouvimos música. ouvimos mew. lembro-me apenas da luz. a luz daquela manhã de agosto. e da tua respiração. da tua voz ensonada. mas era a hora de partir. arrumaste as tuas coisas e nunca mais nos havíamos de abraçar assim. daquela maneira. como duas crianças que tentam escapar da solidão.

Previously I never called it solitude.
And probably you know all the dirty shows I’ve put on. Blunted and exhausted like anyone. Honestly I tried to avoid it. Honestly. Back when we were kids, we would always know when to stop. And now all the good kids are messing up. Nobody has gained or accomplished anything.


"comforting sounds" - mew

domingo, 5 de março de 2006

em trabalho

fecho-me em casa e escrevo, escrevo. penso depois nas palavras e como elas serão ouvidas. não me atrevo a ler em voz alta. por pudor. continuo a escrever. páro às vezes para não fazer nada e não paro de pensar. então volto a escrever. depois penso no tempo e nos prazos. volto a escrever. de repente comovo-me e esqueço quase que estou aqui. que sou eu quem escreve. depois reencontro-me. sei quem sou. e escrevo. e desprendo-me das palavras para que elas possam ser escutadas. e duvido muito que acabe a tempo. e sorrio. o que aconteceria se não acabasse a tempo. o que se ouviria.

quinta-feira, 2 de março de 2006

raid

voltar a percorrer trilhos antigos de gente perdida no tempo. esse é ainda o meu carnaval. e o francis sabe bem o prazer de estar em sítios onde tão pouca gente passou. de estar longe dos colombos da nossa miséria urbana. de conhecer, pelo menos, como fomos um dia antes de tudo o que hoje nos agarra ao sofá.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

visível/invisível

eu não tenho medo que desapareças. não tenho medo que ontem tenha sido a última vez que te vi. o que receio e não posso recear mais é que da próxima vez que me vejas - que eu te veja - eu já não seja o mesmo. e isso temo porque está certo. ou melhor. temo porque já não sou o mesmo. e tu já desapareceste.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

rádio pirata

andei ocupado com algumas ilegalidades. podem verificar aqui. a partir de agora estou também na rádio pirata.

sábado, 11 de fevereiro de 2006

aniversário em família (2)

a cláudia também esteve lá.

aniversário em família

hoje faço anos. mas hoje a festa não é só minha. não sou só eu que faço anos. hoje é a festa de uma parte importante da minha família. com várias homenagens mais que justas e uma homenagem muito especial. porque a família não esquece os mais velhos. os que nos deixaram crescer e ser como somos. e estou feliz por me esquecer de mim. por a minha família ser mais importante do que o meu aniversário.

amanhã já não faço anos. mas a minha família permanece.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

sobre a posição do historiador

eu gostava de ter lá estado mas não estive. podia ter sido tudo diferente. hoje podia ter 50 anos. podia viver contigo e com eles. na nossa casa. sentar-me tranquilamente todos os dias numa secretária feita de madeira. repousar sobre o meu sucesso. podia ter desistido de inventar o meu país. escrever duas ou três coisas nostálgicas sobre aqueles dias. mas não estive. o mais importante é que não estive. nasci 6 anos depois. aprendi o que sei na minha casa, na minha escola, no meu agrupamento de escuteiros, nas várias famílias com quem vivi. aprendi coisas importantes no evangelho de joão e pouco na catequese. ouvi nirvana. deixei de comer carne. comovo-me de vez em quando, à noite, com um poema que fale do mar. tenho aparentemente um mundo inteiro por trilhar. e sei que um dia voltarás. e se não voltares encontrar-te-ei, custe o que custar. de que vale comover-me com o passado se o futuro puder ser o que eu quiser.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

antes de adormecer

fazia a minha oração diária diante de mais um livro de poesia. e, qual não é o meu espanto. encontro um pequeno papel com o teu nome e uma data dentro de um livro. por sinal, na página de um dos meus poemas favoritos. porque terei feito isto? porquê esta data? penso um pouco. volto atrás. penso outra vez. e relembro. este foi o primeiro dia em que nos beijámos. estremeço. já não consigo acabar de ler o poema. depois sorrio. bolas. que rebuscada artimanha para que a memória não pereça.

eu sabia. eu sabia que voltaria um dia aquele poema. para te encontrar assim. subitamente. adormecida ali.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

como nos tornamos adultos

faz agora dez anos que o inverno se transformou na primavera mais florida, no verão mais terno, no outono mais doce, que alguma vez sentira. há certamente para mim um antes e um depois desse inverno. amei sem saber amar. não havia caminho onde não estivesses. não havia frio nem medo.

o meu avô morreu no fim do inverno e eu não o consegui chorar. como é estúpida a adolescência.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

ruy revisited

mais um poema. mais uma experiência. no ano mozart. na barra azul do menu lateral.

domingo, 29 de janeiro de 2006

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

preparação

da próxima vez que eu fizer anos não me telefones. é a única vez durante o ano que falamos e mais parece que celebramos uma morte e não um aniversário. já não faz sentido. vamos deixar que as recordações sejam apenas aquilo que são. recordações. afinal morremos, ou não?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

mil passos

de repente. o sentido da vida estava ali. era meio-dia. íamos almoçar. não me recordo como estava a luz do sol. lembro apenas como ousámos sonhar a eternidade. em mil passos sem fim.

rumor

é a tua distância que me assalta de noite. pé ante pé. e, sem dar por isso, estás ali. perguntas como estou. como tenho passado. e eu deixo-te entrar. ficar mais uma noite. uma noite, ouviste?
e no dia seguinte, olho-te com saudade. passo a mão pelo teu cabelo. e saio para a vida que existe.

cadê meu amor

oiço um sambinha. zeca pagodinho. é incrível como no meio deste gelo, estamos de repente a jantar no boi preto, a dançar no aero clube ou a repousar no pelô.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

o c.a. é fixe

dizem que o francis e a sua criação bovina fazem hoje um ano. para mim ele ainda está a fumar uma cigarrilha no meio da estrada, num dia quente de agosto, perante o espanto do resto da manada. ele sabe do que é que eu estou a falar. eh pá, ele é sportinguista, mas também não era preciso citar o octávio. parabéns.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

o amigo do polvo

eu gosto muito de polvo. mas também gosto da ideia de termos um amigo do povo. a não perder. parabéns aos amigos.

ah, e podem dizer: este link já cá canta. vou-vos ler com atenção.

sina

não precisas de esconder que o teu maior pesadelo é chegares a casa e dizeres: "mãe, namoro com o bibliotecário..."

ruy exploded

que me perdoe a cornucópia e a sua magnífica leitura de a margem da alegria de ruy belo. mas não resisti. no leitor azul da barra podem escutar a minha fusão entre um dos mais belos passos da obra e a música dos explosions in the sky. escutem até ao fim.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

a pior estação do mundo

diz o francis cobras e lagartos de hlavní nadrazí, a principal entrada em praga para quem vem de comboio. bem me lembro, caro amigo: à chegada pela manhã, o pior pequeno-almoço que já tomei, num sítio absolutamente asqueroso, com o pedido de uma informação em gestos e inglês - respondido em puro e incompreensível checo; à partida, longos minutos de espera com milhares de japoneses a sorrir, e o meu companheiro de viagem a pedir-me a última moeda que tínhamos porque a senhora da casa de banho vociferava sem o deixar entrar.

claro que esta primeira e última impressão não fazem esquecer um dos sítios mágicos da velha europa: karlov most.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

passagem de ano



o ano termina com a morte. caminho sobre a neve. a luz ao fundo não brilha. ilumina. repouso a cabeça. fecho os olhos. as crianças correm na igreja. o ano começou.