quinta-feira, 30 de março de 2006

pergunta seguida de resposta

agora flutuamos. pairamos como a neblina. quando foi? posso dizê-lo. talvez por nunca mais te ter visto depois do tempo. não me lembro.

babel

sabíamos dizer o amor. esquecer uma língua é outra forma de morrer.

terça-feira, 28 de março de 2006

pensamento do dia

o meu ecumenismo confesso (sim, acredito que um dia a religião vai apenas religar e não mais dividir) termina na 2ª circular. um bom sportinguista é sobretudo um exímio anti-benfiquista.

choque tecnológico

o novo vocabulário é tanto que ao pedir ao meu pai que desse um recado à minha mãe ouvi a resposta:
- manda-lhe um "emanuel" [entenda-se e-manuel] ou "imél" ou lá o que é isso.

domingo, 26 de março de 2006

wake up

acordo ainda com o teu sabor. sonhei que te beijava pela primeira vez. tenho a certeza que os teus lábios são assim como os sonhei. tal como são ternos os teus abraços madrugada fora.

sexta-feira, 24 de março de 2006

fall semester



would you please forgive me if i found my way back home

the get up kids

dúvida

o que restou de um poema

desta vida caminho para o sol
e nunca estive tão perto de casa
como nas manhãs em que a cidade
acordava preguiçosa e a sua voz surgia
vinda da noite trazendo a paz dos dias
vagarosamente silenciosos
na sua varanda do tamanho do mundo

limite

não posso escrever a tua ausência. este é apenas um dos limites da linguagem.

terça-feira, 21 de março de 2006

dia mundial da poesia

(...)
Quão fácil era ao corpo a sepultura
mas nós os que dos peixes somos
os que com a tormenta afinal todos nos perdemos
temos por simples pátria a língua portuguesa
e por isso por arma temos estar de pé
opor ao sol a face incorrigível
e darmos a palavra aos que não têm voz
pois ao silêncio os têm submetidos
Poema de palavras não de paz mas de pavor
Construção linguística difícil aparentemente
em que em troca da vida e do triunfo me tornei teu ínfimo cultor
sob essa superfície de impassível frialdade
sei que se oculta a voz não da humanidade
palavra do mais dúbio dos significados
mas dos homens que dostoievski viu ofendidos e humilhados
Quente e humana embora na aparência fria
que a todos se destine a poesia

ruy belo
"primeiro poema de madrid"
transporte no tempo
1973

quarta-feira, 15 de março de 2006

insónia

e de repente reencontro-te através do teu blogue. conheço a tua nova vida.

terça-feira, 14 de março de 2006

absurdo

que primavera é esta que traz a morte?

dois versos que dizem tudo

o meu maior medo é um dia
a minha mãe não mais acordar

segunda-feira, 13 de março de 2006

in memoriam - a.c.l. (1957-2006)



o meu professor morreu no primeiro dia da primavera.

a única estação

saio de casa e qual não é o meu espanto: o inverno acabou. cheira a verão. o verão chegou.

quarta-feira, 8 de março de 2006

partir/ficar

era de manhã bem cedo. uma manhã luminosa e quente de agosto. arrumámos as nossas coisas. tu arrumaste as tuas, porque eu apenas fingi. não era capaz de mexer numa só peça de roupa. num só objecto. fazíamos as malas para partir e isso era a última coisa que eu queria. entrei na tua tenda. deitei-me ao teu lado. afinal agora recordo que ainda não tinhas guardado tudo. levei o meu saco-cama para junto do teu. abracei-te. cheirei o teu cabelo. ouvimos música. ouvimos mew. lembro-me apenas da luz. a luz daquela manhã de agosto. e da tua respiração. da tua voz ensonada. mas era a hora de partir. arrumaste as tuas coisas e nunca mais nos havíamos de abraçar assim. daquela maneira. como duas crianças que tentam escapar da solidão.

Previously I never called it solitude.
And probably you know all the dirty shows I’ve put on. Blunted and exhausted like anyone. Honestly I tried to avoid it. Honestly. Back when we were kids, we would always know when to stop. And now all the good kids are messing up. Nobody has gained or accomplished anything.


"comforting sounds" - mew

domingo, 5 de março de 2006

em trabalho

fecho-me em casa e escrevo, escrevo. penso depois nas palavras e como elas serão ouvidas. não me atrevo a ler em voz alta. por pudor. continuo a escrever. páro às vezes para não fazer nada e não paro de pensar. então volto a escrever. depois penso no tempo e nos prazos. volto a escrever. de repente comovo-me e esqueço quase que estou aqui. que sou eu quem escreve. depois reencontro-me. sei quem sou. e escrevo. e desprendo-me das palavras para que elas possam ser escutadas. e duvido muito que acabe a tempo. e sorrio. o que aconteceria se não acabasse a tempo. o que se ouviria.

quinta-feira, 2 de março de 2006

raid

voltar a percorrer trilhos antigos de gente perdida no tempo. esse é ainda o meu carnaval. e o francis sabe bem o prazer de estar em sítios onde tão pouca gente passou. de estar longe dos colombos da nossa miséria urbana. de conhecer, pelo menos, como fomos um dia antes de tudo o que hoje nos agarra ao sofá.