quarta-feira, 28 de setembro de 2005

discurso de despedida (não o meu...)

o vai-e-volta da blogosfera não pára de surpreender. para quê tantas despedidas e regressos? não podiam dizer apenas que iam mudar de template? dizia-me um amigo recém-chegado que isto estava a perder qualidades e autores de referência. fiz bem em aconselhar-lhe paciência.

talvez um sentido que seja

há sempre aquela altura na vida em que as pessoas que nós mais queríamos nos viram as costas. aquele dia em que só estamos com quem não queremos estar. aquela tarde em que nada parece fazer sentido na nossa vida. é nessa altura que recomeço. volto atrás. expulso o im de impossível, como b.p. nos ensinou. torno a felicidade possível. ao alcance de uma luz imaginada numa janela do comboio. ao alcance da simplicidade de um amor que não tem fim.

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

rapidamente

a melhor coisa que podia ter acontecido à blogosfera foi o regresso de francisco josé viegas com a noite, o que é?.

a noite é ler-te saboreando cada palavra.

noite paroquial

mesmo que eu fosse o mais católico dos homens. mesmo que deus me tivesse chamado a roma, como chamou paulo na estrada de damasco. mesmo que eu vivesse na mais plena comunhão dos santos. ser-me-ia sempre insuportável ouvir um padre falar dos sacrifícios que fazem os doadores de esmolas (e o quanto é preciso saber gastar esse dinheiro) envergando um pullover amarelo da gant pago, provavelmente, pela mesma suada maquia.

que saudades da palavra, tiago. que saudades de deus.

domingo, 18 de setembro de 2005

uma objecção

o problema da felicidade não é tanto como nos sentimos agora, ou como nos sentimos ontem. nem sequer se trata de tentar antecipar o que devemos ou podemos sentir amanhã. o problema da felicidade é o que se procura. é no futuro que os nossos olhos desenham os nossos gestos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

o meu objectivo para o mês que vem

ser capaz de ouvir o silêncio.

terça-feira, 13 de setembro de 2005

a cor mais bonita

o sol a morrer na pedra branca.

carta-prego

cláudia, fui esquecendo as cartas-prego que abri. guardo uma ou outra ainda fechadas, como se de um tesouro se tratassem. naqueles dias eu sabia e conhecia o que lá estava escrito. não porque fosse da escola do francis mas porque a patrulha a guardava como troféu de caça. hoje decerto que só indo buscar as fotocópias dos mapas, debotadas pela chuva, poderia encontrar esse nomes estranhos de terras que tanto nos fazem rir. mas há uma cumplicidade que nunca esquecerei. meia pelo joelho. bota de atanado. estrada acima. estrada abaixo. ao ritmo da bandeirola.

domingo, 11 de setembro de 2005

domingo à noite

ouvir sufjan stevens. ler duas ou três páginas do jornal. apagar a televisão. escutar a cidade. sentir os últimos rastos do calor de verão.

domingo, 4 de setembro de 2005

taizé, ponto n1 da igreja da reconciliação, 21 de agosto de 2005, 21h20

"sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

pensa em mim protege o que eu te dou
eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve p'ra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar"

mafalda veiga
cada lugar teu

taizé, 20 de agosto de 2005

hoje faz 65 anos desde o dia em que o irmão roger chegou pela primeira vez à vila de taizé. hoje que o fui ver uma vez mais à igreja.
vou lá como um estranho que se sente triste, e ele sabe disso, mesmo sem me conhecer, pois agora já está com o pai. vou lá como um estranho, como acontece sempre que rezo. como alguém que não sabe rezar, nem sabe muito bem no que acredita. sou um estranho afinal a isto tudo. tão estranho como o sou para ti.
por um acaso tão triste volto-te a encontrar. e tu passas como se não me conhecesses. e eu falo contigo como se não te conhecesse também. e somos dois estranhos assim nesta vila tão pequena para o nosso desencontro. a vida desencontrou-nos afinal. agora somos dois estranhos.

taizé, 18 de agosto de 2005

sentado na igreja, velo o corpo do irmão roger. música clásica enche a igreja da reconciliação de uma harmonia comovente. o que fazer perante tal tragédia? o que dizer perante a grandeza deste homem singular, que dedicou toda a sua vida ao serviço de cristo e dos mais pobres? que oração pode ser dita nesta hora de tristeza? talvez apenas a mais simples como o irmão roger sempre nos ensinou. palavras humildes de agradecimento, que o possam acompanhar na sua partida para a eternidade.

na morte do irmão roger, 16 de agosto de 2005



roma tornou-se a cidade onde soube uma notícia muito triste. a morte do irmão roger em taizé, assassinado hoje na oração da noite. parto hoje para lá e chego amanhã à hora de almoço. como estará taizé com tal perda, de uma forma tão dramática? a dimensão da personalidade de roger diz-me que viverei pelas piores razões um momento histórico. sucede-lhe o irmão alois que conheci em lisboa na preparação do encontro do último inverno. uma pessoa afável e simpática. como será o futuro?

roma, 16 de agosto de 2005





terminou aqui na cidade eterna o nosso inter-rail. partimos amanhã para taizé. roma é uma cidade absolutamente histórica e monumental. cada rua um monumento. invadida por japoneses, não é uma cidade fácil de visitar, tal as hordas de turistas que nos afligem. poder-se-ia dizer que pela sua magnitude e importância há quatro locais imperdíveis: a basílica de s. pedro, a capela sistina, o altar da pátria na piazza veneza e o coliseu romano. tudo o mais é o regresso às nossas mais profundas origens.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

não é o sol apenas que morre



não é o sol apenas que morre
ao largo de stari grad
não é a luz que desliza
desenhando pequenas ondas
que vêm até mim
não é o céu demasiado largo
em tonalidades tão infinitas
quanto a imensidão da luz
não são as crianças que brincam
que dão os últimos mergulhos
antes do regresso a casa
não é a impossibilidade de tudo
abraçar de tudo poder fazer
de uma só vez
não são as árvores que assistem
impávidas ao entardecer
não são os barcos que regressam
das longas viagens pelo adriático

não é tudo isto o que vejo
não pode ser isto apenas o que vejo

eu vejo o amor
é sempre para ele que olho
quando penso em ti
quando estás presente
mesmo neste sítio longínquo
onde provavelmente nunca virás

só existe o amor
só tu existes em mim
como uma luz que fenece
na distância que parece
não aumentar de nos
separar

stari grad, hvar (croácia), 14 de agosto de 2005





stari grad é uma das vilas piscatórias da ilha de hvar, no adriático, ao largo de split. é uma vila hoje totalmente turística, acantonada numa enseada que circula um braço deste mar de águas límpidas. as suas ruas estreitas, com casas de pedra branca, lembram as vilas mediterrânicas. este é o sítio mais solarengo de toda a croácia, dizem os guias. aqui reina a harmonia das famílias felizes em férias e dos imensos grupos de italianos. um sítio paradisíaco. o entardecer é belo, reflectindo o sol nas águas azuis por entre barcos e veleiros de todo o mundo.