sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

do evangelho segundo são marcos

«Conforme está escrito no profeta Isaías:
Eis que envio à tua frente o meu mensageiro,
a fim de preparar o teu caminho.
Uma voz clama no deserto:
"Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas."

João Baptista apareceu no deserto, a pregar um baptismo de arrependimento para a remissão dos pecados. Saíam ao seu encontro todos os da província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pêlos de camelo e trazia uma correia de couro à cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
E pregava assim: «Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. Eu baptizei-vos em água, mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo.»

Marcos 1: 2-8

um feliz natal para todos os meus amigos e leitores. que o novo ano seja repleto de paz, amor e harmonia.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

do nojo da imprensa

o francis c. afonso viu. a imprensa viu e distorceu. é mera propaganda do regime vermelho. ou melhor, encarnado. não passa disso.

reescrita

um dia vou precisar do teu ombro
eu desço e subo as ruas da cidade
à tua procura (estou perdido)
por entre os plátanos despidos
(somos inocentes amor)
a vida é uma estrada a caminho do rio
e a tua mão a minha única companhia
és o nome da felicidade
da alegria de cada certeza
de uma ponte que atravessa a noite
repito, um dia vou precisar do teu ombro
e tu serás como em belém a estrela que me guia

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

despeço-me da terra da alegria

Que importa que no mundo morram os ministros?
É patriótico negar a nacionalidade
aos naturais de um país vencido
que só buscou no mar razão de ser. Eu canto a
memória fugitiva como a água
que parece estender alguma mão de paz
sobre a ácida lâmina de um sabre
Gente amarela e morna amordaçada
domina esse país aonde a ironia
dissimula a impossível alegria
numa vida que vai por mim contaminada
vida do largo da areia e do vento
À minha personalidade própria de poeta
na carne cerebral de que careço
a eternidade vem-me das papoilas
desfolha-se-me a vida como as pétalas das rosas
e pensei e li mais do que vivi
E só tu sobressais entre as demais
mulher eterna com a luz na fronte
e dominante agora em todo o horizonte


ruy belo

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

da intimidade

ninguém nos conhece. mesmo quando parece que revelamos a nossa intimidade há tanto por detrás das palavras. sim, isto talvez seja um lugar-comum. mas provem-me o contrário. é por isso que a justiça não é dos homens nem de deus. é um reino que está para vir. quando não formos mais nada do que brisas que levantam a areia. quando não houver palavras nem talvez nada.

soma

silêncio mais silêncio mais silêncio. desespero.

domingo, 9 de dezembro de 2007

lixo

às vezes à noite escrevo um poema durante uma hora. descanso depois. ouço uma voz que me chama pelo nome. releio os versos. vou deitá-los cuidadosamente no lixo. adormeço. acordo a meio da noite. tento continuar o poema. penso um pouco. respiro fundo. lembro-me que os deitei fora. choro apenas sem lágrimas. volto a adormecer.

s/ título

apesar do amor, as lágrimas são silenciosas.

sunday sunday

é irónico que a tristeza pareça sempre não ter fim mas haja quase uma certeza perene da brevidade da alegria.

que difícil é o anoitecer ao domingo.

reino de deus

"Nos dias do Senhor nascerá a justiça
e a paz para sempre.

Ó Deus, dai ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade.

Nos dias do Senhor nascerá a justiça
e a paz para sempre.

Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.

Nos dias do Senhor nascerá a justiça
e a paz para sempre.

Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos.

Nos dias do Senhor nascerá a justiça
e a paz para sempre.

O seu nome será eternamente bendito
e durará tanto como a luz do sol;
nele serão abençoadas todas as nações,
todos os povos da terra o hão-de bendizer.

Nos dias do Senhor nascerá a justiça
e a paz para sempre."

salmo 71 (72)

eternidade

como não sei o dia nem a hora guardo sempre a tua última mensagem. como se guardar as tuas palavras fosse exigir a eternidade.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

o meu cantinho do hooligan

é preciso dizer isto com clareza. o antónio tadeia, ou lá quem era, e todos os jornalistas que fizeram comentários no manchester-sporting deviam ser pendurados de cabeça para baixo na jaula dos leões do jardim zoológico, tal o benfiquismo que os assolava. a lógica da batata era esta: se o benfica lá perdeu, o sporting também tinha de perder. meteu tanto nojo, mas tanto nojo, que sempre que penso nisso me vêm vómitos à boca. que grandes cabrões!

sábado, 24 de novembro de 2007

da humildade

é uma música sobre a morte no campo. se pudéssemos dar um nome às músicas que não escrevemos eu chamava-lhe "humildade". podemos ouvi-la aqui, ao vivo, em Reykjavik, em Fevereiro deste ano. é a beleza. quando as coisas simples são simplesmente belas.



esta música é do álbum takk... e a versão que saiu no novo ep está descrita assim:
heysátan
the final song on the band's most recent album, this version of 'heysátan' was recorded in the middle of absolutely nowhere out on the western tip of the west fjords at the bizarre outsider art folly in selardalur. this proved to be an appropriate setting for a song about a happy death in rural isolation.
interestingly, 'heysátan' contains the only words in english i know of in a sigur rós song (and surprisingly a strange example of product placement in this most anti-advertising of bands), when jonsi sings of the moribund farmer falling from his "massey ferguson" tractor…

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

lugar-comum que sabe bem

as mudanças são, como é óbvio, rasgões de vida. correntes imparáveis, decididas. conhecem retrocessos, eventualmente desacelerações. mas é bom mudar. é sempre bom mudar.

sábado, 10 de novembro de 2007

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

testemunho

é raro vermos aquilo em que ficamos. a nossa obra. mais ou menos reconhecida. dizia o ruy belo que só havia ficado nos filhos e nos versos. parece-me uma boa proposição. nos filhos que não tenho. nos versos que não sei escrever.

sunset on me

a luz do fim da tarde na cidade (não me canso de dizer) é sempre uma réstia de verão em mim. uma luz amarela por entre os prédios, enquanto volto a casa. está tudo em silêncio. arrumo duas ou três coisas. finjo que estou ocupado. finjo que é útil estar por aqui. que vale a pena estar por aqui. oculto a angústia de quem foi perdendo por aí o coração em partes. que deixou a vida e a não pode fazer regressar. depois anoitece. anoitece sempre, todos os dias. então deixo a música falar por mim. vozes que sofrem, talvez. vozes que sofrem em mim.

da filosofia

onde deixámos a filosofia? a capacidade de pensar criticamente deu lugar a uma enxurrada de lugares-comuns. a nossa vida foi transformada num imenso lugar-comum. que nada acrescenta. rumo ao nada. aqui vamos nós.

estrada da circunvalação, serpa

não percebes que a dor que eu sinto não tem nada a ver contigo. é apenas a minha incapacidade de ser melhor. de não saber como poderia ser melhor. de não saber bem por onde ir. de continuar a ser a mesma criança assustada quando descobriu que do outro lado do muro não havia apenas oliveiras mas uma montanha de lixo. tanto lixo. tanta coisa que não serve para nada. um obstáculo atrás de outro obstáculo. uma mistura de ódio com a alegria de ser uma árvore que cresce sem pedir autorização. que não tem dono nem senhor. e também percebo que fazer os outros sofrer é mau demais. é ser lixo. tanto lixo.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

na esplanada, a beber café

enquanto falava ao telemóvel, ela fumava, sorria. e olhava com insistência para a aliança de casamento. um enigma pela manhã.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

rumor

sei que vem aí o inverno. vejo as árvores a entristecer. sinto os primeiros arrepios, os primeiros espirros. as roupas mudam e a cidade vai perdendo aos poucos a sua luz ao final da tarde. é a mudança, amor. e tudo muda menos tu. há um outono que sempre nos surpreende. que nos rouba de súbito o verão. que nos deixa assim, a sós. e as palavras vão sendo cada vez mais silenciosas. um suave rumor antes das grandes chuvas. da água que lavará as pedras sujas da minha rua.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

estrangeiro

aprendes a viver em qualquer cidade menos na tua. conheces os nomes das ruas mas as pedras que pisas são sempre insuportáveis. percorres os caminhos um por um mas nenhum te leva aonde queres ir. são bairros e quarteirões que se transformam em súbitos labirintos da dor. gostas da luz mas até as avenidas podem entardecer ao meio-dia. és estrangeiro a cada instante e desejavas sempre estar noutra cidade qualquer. para talvez no exílio teres saudade da vida. e a distância se transformar num respirar de regresso.

sábado, 15 de setembro de 2007

desequilíbrio

disseram-me hoje que o meu mal era falta de equilíbrio. entre o sentir e o fazer. respondi que faço aquilo que sinto. ou melhor. que sinto aquilo que faço. lugares-comuns à parte, não me sinto desequilibrado.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

quietude

se eu morrer, um dia, não quero que digam que fui uma alma inquieta. eu sou quieto. não por a vida passar e eu não a agarrar. mas por tentar desesperadamente que ela pare. e a vida nunca parar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

pátio

certa noite vamos lá fora e o mundo parece que assusta. mas é tudo a brincar. e a eternidade é uma cama onde repousamos todos os dias.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

da chinelagem

tranquilizo-me sempre quando descubro que alguém que cresceu no mesmo sítio que eu também não perdeu a capacidade crítica de discernir que o uso avulso e despropositado de chinelos não cessa de nos supreender e irritar. há, sem dúvida, um problema de Nação. de que país queremos ser. e não me venham dizer que a culpa é brasileira. o grito de ipiranga já tem as barbas brancas.

fim das férias

vejo as árvores quietas e o verão demora-se. não há maior prazer do que estas demoras inesperadas. ficar mais tempo do que se esperava. tardar em partir. deixar que o vento quente nos atravesse um pouco mais. sempre um pouco mais. as férias acabaram mas parece que se demoram na nossa pele. e o inverno da vida que teima em não chegar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

1779

quilómetros depois e 15 dias sem um banho de água quente, as férias chegaram ao fim. mudei? fiquei diferente? claro que sim. que perguntas estúpidas.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

longe, para longe



quando se anseia tanto pelas férias, quaisquer que elas sejam, o que quer que se faça, será sempre excelente.

desejo umas férias esplêndidas a todos. até setembro.

afinal de contas, férias são férias.

à prova de kitsch




tarantino serve copos no meio do nada. a história é simples. a américa é simultaneamente rural e hollywoodesca. muitas raparigas na vanguarda, independentes. um homem do antigamente. brinca-se com a película, com os espectadores, faz-se cinema. não há pretensões. é a diversão, a aventura, a exploração do som e da imagem. excelente banda-sonora. duas horas muito acima do limite de velocidade. duas horas que passam em menos de nada mas em que fica na retina uma lição do que o cinema é: a obra de cada realizador, parafraseando o pedro mexia. e tarantino é um grande realizador.

death proof é à prova de kitsch.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

efeméride

no dia 16 cumpriram-se três anos desta margem e quatro desde que comecei a escrever em blogues. se me perguntassem em julho de 2003, em plena febre bloguística, quanto tempo por aqui iria ficar, eu juro que não acreditaria. não tem nada a ver, mas o francisco josé viegas começou um mês antes de mim e também continua.

os únicos dois desejos deste blogue mantêm-se: homenagear ruy belo e escrever sem maiúsculas. como diria o poeta. para que nenhuma palavra se levante no meio da frase.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

atrocidade

é estúpido, idiota e atroz mas às vezes até queria que morresses (ou viesses?) para que te pudesse chorar sem esperança.

terça-feira, 10 de julho de 2007

até a noite

conta-se histórias até o dia adormecer por entre o som dos copos e talheres. aprendi com o a. que, à volta da mesa, fazemos sempre mais do que simplesmente nos alimentarmos. somos um. partilhamos o mesmo espaço. partilhamos a mesma comida. bebemos o mesmo vinho. pouca coisa nos pode ali separar. celebramos a amizade e estamos, cada um, em comunhão com todos. até a noite nos ampara a conversa que discorre ligeira. olhamos a lua e as luzes dos velhos candeeiros por entre palavras simples mas que brotam do mais fundo de nós. aprende-se que as pessoas valem pouco. infelizmente é preciso ter cuidado. há muita gente ao engano. com inveja. temos de nos abraçar. a defesa dos humildes. depois o dia nasce e a dança esmorece. é hora de ir dormir. até a noite voltar.

terça-feira, 3 de julho de 2007

vale das amendoeiras

dizem que o nome da minha terra significa "vale das amendoeiras" em árabe. filologias históricas à parte, desculpem os estimados leitores a minha recente ausência. é que empreendi com mais uns amigos um baú de memórias em forma de blogue. tudo sobre a minha terra, na rua sem fim.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

o tempo não foge

deixo tudo para depois. não registo. não tenho diário. adoro assistir ao trabalho involuntário da memória. perder tudo. saber perder tudo. coisa por coisa. depois redescobrir, reencontrar. um som, um cheiro. o trabalho dos sentidos. deixo tudo para depois. vejo o rio correr. deixa o rio correr. não interessa. já esqueci. recordei, duvidei, abandonei.

as palavras de uma música



New York is lovely in the winter time
The sidewalks are white as snow
The buildings, all the people that pass me by
How the smile on his face says he's in love

I took the train all the way to Brooklyn Heights
I remember when you took it there with me
We sat side by side and held hands for sometime,
Misalluded the Statue of Liberty

And I have much farther to go
Everything is new and so predictable
I should just click my heels together and go home
But I'm not sure where that is, anymore

Oh how I wish I could go back in time
To the night when I heard my mother cry
She held me in her arms
And we talked for sometime
And I sang a song her mother sang to her

It goes, something about paper dolls and what men preffered
Something about the cross and how her Jesus died for her
Something about love and how it's worth fighting for
I wondered does love like that exist anymore?

And I, I have much farther to go
And I, I'm so confused I know
I should just click my heels together and go home
But I lost my way (back home)
When I lost you

Sometimes I cry when it's late at night
And you're not there to lay next to me
Morning breaks and the sun warms my face
How I wish it were you warming me


rosie thomas
"much farther to go"

quinta-feira, 21 de junho de 2007

navegação à vista

é curioso que alguém nos encontre neste oce@ano pelas palavras "agosto 2004 adeus solidão"...
estes foram os dois excertos de ruy belo que motivaram o achado.

***

"o amor só se conserva quando a solidão
de cada um dos dois é respeitada
mesmo que isso exija a implacável destruição
dos que não deixariam de se destruir
se dessem um ao outro a mínima das mãos"

encontro de garcilaso de la vega com dona isabel freire, em granada, no ano de 1526

***

"abraço-te com força antes da morte
sorriso frio com suor ao meio
olhos parados pela curiosidade
a face fácil da destruição
vestido que te leva quando o teu corpo suave
malvada cor de malva que me salva
antes que me dissolva na sonora selva
das cores da alva aonde o sol já silva
adeus regaço de que a custo me despeço"

a margem da alegria

imperfeição

é a certeza de que me falta ainda fazer tanta coisa que me garante o saber que estou vivo. e viverei nesta imperfeição desfeita em cada dia. guardando sempre um resto do incompleto. respirando. mantendo-me vivo.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

subtítulo

não se trata apenas de querer saber todas as razões da nossa inquietação. dizer sempre o que queríamos ajudava. estar sempre onde queríamos estar também. mas há coisas simples. há sempre um sorriso amanhã.há alguns sítios e pessoas pelas quais nos esforçamos sempre mais. mas não é por nada disso que vivemos. nem é por nada disso que iremos um dia morrer. e continuo estupidamente a dizer, ninguém conhece o dia nem a hora. ninguém mesmo.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

da ideia de declínio

"O europeu rirá do medo que o americano tem do fim do mundo uma vez que o europeu não acredita num final cósmico temporalmente delineado (o europeu, no que concerne à decadência das coisas, especializou-se no apodrecimento). Um europeu nunca poderá crer no fim do mundo porque, em rigor, um europeu não crê sequer na existência do mundo."

na mouche, tiago.

terça-feira, 5 de junho de 2007

uma cerca, um banjo, uma paisagem



sufjan stevens
for the widows in paradise; for the fatherless in ypsilanti

"I have called you children, I have called you son.
what is there to answer if I'm the only one?
morning comes in Paradise, morning comes in light.
still I must obey, still I must invite.
if there's anything to say, if there's anything to do,
if there's any other way, I'll do anything for you.

I was dressed embarrassment.
I was dressed in wine.
if you had a part of me, will you take your time?
even if I come back, even if I die
is there some idea to replace my life?
like a father to impress;
like a mother's mourning dress,
if you ever make a mess, I'll do anything for you

I have called you preacher; I have called you son.
if you have a father or if you haven't one,
I'll do anything for you. I did everything for you"

segunda-feira, 4 de junho de 2007

as minis estão quentíssimas

o que fazer quando se inaugura uma casa - com uma paella do mar (que durou desde as nove da noite às duas da manhã) e quatro grades de minis - e, mesmo assim, os espíritos permanecem. como se fosse impossível arrancar daquelas paredes a certeza de que alguém ali morou antes de mim. ali nasceu e morreu a minha família. e ali eu sou. e reconheço-me perfeitamente nas suas paredes brancas. no cheiro da madeira. nas pedras velhas da chaminé.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

sexta-feira, 18 de maio de 2007

el ríncon

sean mcmills

eu era mais feliz se a esta hora estivesse no "el ríncon" com os meus amigos, a jantar no meio da rua, enquanto a tarde morre por entre as laranjeiras e os limoeiros. e a noite nunca tem fim.

terça-feira, 15 de maio de 2007

formação contínua

aprender nestes dias é ter a paciência de enfrentar uma sucessão de lugares comuns.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

café-concerto



aconteceu na islândia, a 22 de abril. os sigur rós tocaram enquanto se serviam panquecas e waffles. leiam aqui.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

amanhecer

há um verão em mim que dura para sempre. um verão que madruga. um verão onde o sol nunca se põe. uma memória que persiste. que me alimenta.

da esperança



eu gosto da ikea mas assinei. afinal, a esperança é a última a morrer, não é francis?

domingo, 6 de maio de 2007

e a paz pode ser isso aí



ana carolina e seu jorge

sexta-feira, 4 de maio de 2007

surpresa

é curioso que no fundo de uma imensa tristeza apareça de supresa a paz.

back to the old days

não conseguir fazer chamadas de telemóvel, apesar de ter saldo. não conseguir mandar mensagens. não conseguir estabelecer ligação com o apoio da tmn, mesmo ligando a partir da rede fixa ou de outro telemóvel.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

last but not the least

o conceito é simples. visitar os últimos classificados dos vários campeonatos do futebol português. sentir o ambiente. conhecer a gente da terra. fica aqui um top 10 da "liga dos últimos". chamo a atenção para a excelência das personagens a partir do 5º lugar.

a melhor juventude

era primeiro a tarde. tantas tardes. mãos dadas pela primeira vez. um abraço tímido. as vizinhas na janela. a espera. foram tantas esperas. não havia tempo afinal. não havia medo afinal. era a esperança. um sonho. era a capacidade de te ver em todos os sítios por onde tivesses passado. de te pressentir. de saber que aí vinhas. linda. demais. era isto e outras coisas que entretanto deixaram de fazer sentido e por isso as esqueci. esqueci primeiro o teu cheiro. depois o cheiro da tarde. então o amor. e esquecer o amor foi a pior coisa que me podia ter acontecido.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

é a reacção



na linha de "bondage" e "portugalmente", a comédia-teatro-intervenção na rua de jel e os seus compinchas. um espaço onde realmente "vai tudo abaixo" (sic radical, quartas, às 23h). para quem não conhece fica um exemplo das minhas personagens favoritas, os "homens da luta".

quinta-feira, 19 de abril de 2007

vem sentar-te comigo, lídia



Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas, que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes de decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

ricardo reis

sexta-feira, 13 de abril de 2007

cante



se tu não fosses mariana
não vinhas a braços meus

terça-feira, 3 de abril de 2007

do sangue frio

ver a morte e não a temer. sentir uma profunda confiança. que espécie de situação é esta? o que me aconteceu?

quinta-feira, 29 de março de 2007

ícaro

sabes bem que o meu amor por ti não precisa de rosas nem de palavras. ele vive de um sopro. muito simples. uma brisa da tarde que faz ondular levemente o teu cabelo. que te arrepia de súbito. que vai daqui até. sou eu. sim. presente.

giroflé, giroflá

no dia em que eu deixar de querer começará o passado. e o presente será sempre um constante passado. sem qualquer futuro.

sábado, 24 de março de 2007

em teoria

podíamos melhorar os gestos. torná-los mais simples. mais puros. (e por puros entendo mais perto do coração). podíamos até mesmo tentar ouvir o mar. mas deixamos uma inquietação estúpida toldar os nossos sentidos. duvidar do futuro. até regressar ao egoísmo dos dias curtos de inverno. e os gestos ficam parcos como os meus pés na noite fria. e os gestos passam apenas a ser teoria.

o meu monte das oliveiras

o medo de voltar a certos lugares resulta de uma humilde mas assustadora certeza. uma vez lá, não poderei jamais regressar.

quarta-feira, 21 de março de 2007

porque choras ao ler poesia?

é a tua incapacidade de amar. a tua incapacidade de amar. e a solidão. tanta solidão. incontida.

dia mundial da poesia

Povoamento

"No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera"

ruy belo, aquele grande rio eufrates, 1961.

cada vez leio mais e gosto mais. parafraseando um dos teus versos, as tuas palavras seriam a voz se o silêncio se pudesse ouvir.

23 razões para ser feliz

depois de nova iorque ter assistido em 1993 ao nascimento de uma das bandas mais interessantes da música independente, os blonde redhead foram nos primeiros álbuns causa de espanto e de deslumbramento sobretudo pelas guitarras dissonantes e pela tremenda mistura de sons da voz masculina com a voz feminina. no seu último álbum, 23, kazu makino e os gémeos italianos simone e amedeo pace chegam a um ponto sublime na sua já longa carreira. a voz de kazu atinge todo o esplendor, envolta numa fragilidade sempre desconcertante. O início do álbum é aterrador, sobretudo pela beleza de "dr. strangelove", e termina com o magnífico tema "my impure hair", primeiro tema que ouvi na rádio de um simpático melómano, meu velho conhecido.


sábado, 10 de março de 2007

impasse

um impasse é isso. uma fracção de segundos numa música em que os instrumentos podem fazer qualquer coisa a seguir. pode até mesmo surgir uma voz. impera o silêncio. uma espécie de gesto interrompido. ia fazer mas já não vou. espero. repenso. e agora? fico assim. meio perdido. num impasse.

hoje vou-me deitar assim

lembras-te, ao telefone

"Chovia e vi-te entrar no mar
longe de aqui há muito tempo já
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar o teu amor
Mais tarde olhei-te e nem te conhecia
Agora aqui relembro e pergunto:
Qual a realidade de tudo isto?
Afinal onde é que as coisas continuam
e como continuam se é que continuam?
Apenas deixarei atrás de mim tubos de comprimidos
a casa povoada o nome no registo
uma menção no livro das primeiras letras?
Chovia e vi-te entrar no mar
ò meu amor o teu olhar
o meu olhar e o teu amor
Que importa que algures continues?
Tudo morreu: tu eu esse tempo esse lugar
Que posso eu fazer por tudo isso agora
talvez apenas dizer
chovia e vi-te entrar no mar
E aceitar a irremediável morte para tudo e todos"

ruy belo
"Através da chuva e da névoa"
Homem de Palavra[s]

sweet sixteen

sabemos que o tempo passou quando vemos o amor surgir, como água de uma rocha, paciente, sibilante, nos corações daqueles que já foram tão mais novos do que nós.

quinta-feira, 8 de março de 2007

a primeira prenda da casa nova



ermida de nossa senhora da guadalupe, monte de s. gens, serpa.

quarta-feira, 7 de março de 2007

ser anti-benfiquista é...




... sentir vómitos depois de ver que, após o jogo de ontem, do porto, contra o chelsea, a cor que mancha as capas dos principais jornais desportivos é o "encarnado". levar um clube ao colo é isto. e isto mete nojo.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

casa nova #2



"home, home is where I always want to be
home is there for you and is for me
home is where I never want to leave"

josh rouse

as minhas wee hours

o som monótomo da ventoinha do computador. um vago olhar absorto. um súbito mas leve desespero. um suspiro. letras e linhas que passam velozes diante de mim. já não consigo ler mais. já não quero ler mais.

antes do anoitecer

e mesmo que tudo tivesse sido apenas aquele beijo isso seria suficiente para ter a certeza, hoje, de que serei para sempre teu. mas sem a menor dúvida. sem a menor hesitação. eu não sei o que é o amor. amo-te.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

faria hoje 150 anos de vida



carinhosamente chamado B.P.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

o meu dia 11 (pt. 2)

não ouvi hoje a tua voz. não a ouço há tantos meses. porque haveria de chorar logo hoje, que é o meu aniversário? há dias de sol em que me levanto e estou só. e nesses dias também não te ouço. nem é preciso esperar pela hora de almoço para chover torrencialmente na cidade.

o meu dia 11

as pessoas morrem sem querermos. morrem a ritmos diferentes. em locais afastados ou dentro de nós. e é muito triste tudo isto nos ultrapassar. sermos demasiado impotentes. tu, por exemplo, demoraste dez anos a morrer. dez anos preenchidos em forma de sombra. de fumo vago.
a ruptura é hoje. agora que morreste não te posso mais ressuscitar. e o teu nome. e tudo o que é teu, vai ser inevitavelmente esquecido. se te recordar uma vez mais, virás na forma de um sonho. como se nunca tivesses existido. como se ainda não passasses de um desejo.

hoje faço anos

apetece-me dizer tanta coisa.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

das justificações e dos apelos ao "sim"

não tenho razões para o meu silêncio. tenho andado a fingir que faço uma dissertação de mestrado. tenho andado a fingir que estou atento à campanha do referendo do dia 11. mas não posso fingir (isso não posso) que vou votar sim.

apelo a que votem sim todos os que não aceitam que o estado não regule este problema de saúde pública. mesmo aqueles a quem as mulheres que decidem abortar lhes causam nojo ou as acusam de levianas e pseudo-deprimidas, apelo a que votem sim para acabarmos todos com este negócio sujo, com esta selvajaria que é o aborto clandestino. votar "não" é manter o que está. votar sim é querer a mudança. e eu quero mudar esta lei. eu não quero que no meu país as mulheres sejam presas por abortarem. eu não quero que no meu país elas possam abortar em vãos de escada, sem qualquer controlo, nem desencorajamento, nem apoio. tenho dito.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

o que eu mais queria

poder amar-te uma vez mais. poder ver-te uma vez mais.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

casa nova



atrás de mim as oliveiras. imensas.

notícia de última hora

ouvi dizer que a floribela vai acabar em breve.

a dúvida metódica



"Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.»
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!»

João 20: 24-29
(o quadro é de caravaggio)

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

ano novo



não tendo cumprido o desejo que aqui formulei para 2005 (que acabou por se estender em vão para 2006), não vou formular qualquer desejo para 2007. não comi as passas. não parti nada para ter sorte. não sei se desejo alguma coisa para 2007. talvez ver mais vezes o mar. talvez. ainda não sei.