quarta-feira, 27 de abril de 2005

verdade, verdadinha VII

o telemóvel tirou as pessoas de casa. ainda se lembram de esperar por um telefonema?

a minha rua

o problema de um suposto blogue conceptual é sempre o mesmo. subitamente sou arrastado pelo rio. todos os problemas me levam da confortável margem onde me sentei. e a avenida? onde ficou a avenida?

quinta-feira, 21 de abril de 2005

consegues ouvir-me?

há versos que voam pela tarde. pela minha voz sussurrada no escuro. sibilantes na surdina.

et pluribus unum

a discussão em torno de bento xvi centra-se sobre a intransigência de ratzinger com o mundo. isso não me interessa nada. mesmo nada.

(até quando deus vai ser transigente comigo?)

terça-feira, 19 de abril de 2005

condição

eram simples os dias se me esperasses

se déssemos as mãos nas tardes frias de domingo
se nos abraçássemos numa qualquer falésia
se partíssemos de quando em vez sem rumo
se tudo fossem horas de intimidade, segredo e partilha

eram simples os dias se nos amássemos

domingo, 17 de abril de 2005

determinação

não quero saber se foi o régio, ou outro qualquer poeta que o escreveu. eu não vou por aí.

sábado, 16 de abril de 2005

verdade, verdadinha VI

é mais simples amar a patinha feia do que a marilyn monroe. é mais fácil amar a segunda.

primeira noite

deixa-me que te diga
que os anos passaram sobretudo
entre mim e ti mais do que pela nossa pele
desenhada nas rugas profundas do tempo

e digo-te não para que te olhes ao espelho
para que me confundas uma vez mais
mas para que entendas a razão de certo sorrisos
que se escondem em cada madrugada

(é dia lá fora)

a longa noite terminou sem darmos por isso
e continuámos abraçados à vida
como uma última respiração do amor
um beijo que se prolonga na eternidade

r.e.m.

sonho contigo. não sei quanto tempo me invadiste o sono. o tempo suficiente para acordar confuso. em que vida afinal estou? que dia é hoje?

quarta-feira, 13 de abril de 2005

verdade, verdadinha V

a verdadeira anomia social são dois seres que teclam num chat pela noite fora. tal como a missa online não é seguramente secularização. é solidão.

terça-feira, 12 de abril de 2005

da planície branca e baixa

há um dia qualquer em que a folha branca do écran sente apenas o arranhar saltitante destes caracteres sem significado. nada mais. sem maiúsculas.

como dizia o poeta, nenhuma letra ou palavra se deve levantar diante das outras.

segunda-feira, 11 de abril de 2005

é tudo uma questão de miscigenação

leio sobre a inspiração de sócrates no modelo de i&d finlandês. vem-me à memória kirsi, a finlandesa que passou um dia por salvador da bahia, rainha dos afoxés que levou na barriga um mulato, filho de pedro archanjo. um mulato com cabelos de ouro a caminhar pela neve, sonhava pedro.

saibam tudo na tenda dos milagres de jorge amado.

domingo, 10 de abril de 2005

verdade, verdadinha IV

são as mais doces palavras o pior dos venenos. envenena quem o cospe. envenena quem o prova.

um pequeno instante

era mais um domingo vagaroso em que nos entrelaçávamos depois de almoço. como um fiel compasso, o movimento das ondas acompanhava o bater do relógio da sala. as tuas mãos aqueciam o meu rosto. dizias duas ou três palavras que hoje me custam a relembrar.

sábado, 9 de abril de 2005

verdade, verdadinha III

a beleza das coisas termina no seu preço. a coragem dos homens no seu medo. nas estações terminais repousam os comboios. a esperança na ignorância. tudo tem um inexorável fim.

verdade, verdadinha II

uma das mais belas expressões de amor da modernidade é ver o teu ícone verde no messenger, clicar duas vezes e não escrever um único caractere. permitir que o silêncio me deixe amar-te sem saberes.

verdade, verdadinha I

o verdadeiro moralista é aquele que elabora uma extensa lista de palavras a bloquear pelo seu browser (sex related, e outras que tais), sendo ele próprio o único e singular ser humano que o utiliza.

sexta-feira, 8 de abril de 2005

pela rua do abandono

porque é que tens medo de amar
se a vida te espera lá fora
e os rostos iluminados
aguardam as tuas palavras?

deixa para trás a chuva dos dias
de inverno, longos e cinzentos
olha como as árvores sorriem
no verde claro e escuro ao fundo da rua

caminha nessa direcção
sem hesitares e confia
que as pedras dos muros alvos
te guardam os gestos

que os seixos dos mil ribeiros
te protegem do mal
como quem ama sem saber amar
ou confia mesmo sem acreditar