terça-feira, 26 de setembro de 2006

dona la pace

a paz é isto: deixas de uma forma muito simples que o amor tome conta de ti. ou então vai mais longe e ama duas vezes. perdoa. e no perdão está a paz infinita. sim, o mundo é injusto e a vida, às vezes, uma grande merda. mas perdoa. ama duas vezes. não hesites. respira fundo. engole o teu orgulho. e a paz estará contigo.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

da ciência arquivística

há meses que tenho um papel escrito por ti na minha carteira. não o posso tirar de lá porque simplesmente não sei onde o arrumar. sei a proveniência do documento mas não tenho como o classificar. rompe a ordem da minha vida. não tem lugar no meu arquivo. e por isso tornou-se errante e acompanha-me para todo o lado. chamo-lhe "documento provisório".

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

aforismo

é infinitamente melhor olhar para a frente do que olhar para baixo.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

asneiras

fazemos asneiras atrás de asneiras e a vida vai-se tornando um sonolento somatório de asneiras. acreditamos mesmo assim que tudo vai correr bem. as coisas só podem correr bem. como se vê, o meu livre-arbítrio é constantemente ultrapassado pela confiança. enfim, a fé move montanhas mas não impede o asneiredo. haja fé. e asneiras.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

alvorada

acordo. o quarto na penumbra. pensamentos soltos. insisto de repente numa ideia. fixo-a. até que decido e sorrio. vou tomar banho.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

o olhar dos outros

olhar pelos teus olhos não é exactamente o mesmo do que me colocar no teu lugar. não percebes que tento ir mais longe. tento ver o que tu consegues ver. tento sentir o que estás a sentir. o teu lugar é essencialmente social. o teu olhar é parte do teu espírito. e eu ouso pensar que poderei um dia lá entrar. partilhar o teu espírito. ou outra forma de te amar.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

recepção

saber receber alguém na nossa casa é um acto de civilização. partilhar o pão e dividir o vinho. deixar a porta entreaberta e um lugar eterno à mesa. seja bem-vindo quem vier por bem.

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

a outra face de jesus

teria jesus outra face para me dar
um decidido sorriso de amigo
um ombro em forma de abrigo
nos dias em que me esqueço de amar

teria jesus outra face para me dar
quando finjo que o desconheço
e hesito num profundo silêncio
em fechar os meus olhos e rezar

teria jesus outra face para me dar
se eu apenas tenho este rosto plano
e nele deposito todo o meu engano
e caminho de olhos postos no mar

quando eu não o amo e vejo a luz
que alumia esta minha escuridão
respondo sem palavras à questão
porque vejo a outra face de jesus

ausência

não te posso aquecer, amor
o teu frio é um fogo que não sei apagar
a noite cai, ó meu amor
a noite cai e eu não irei estar ao pé de ti
não te posso abraçar
não estou aqui

sou só ausência em mim

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

das salsichas enlatadas e seus consumidores

há blogues onde me chamam ecuménico sem talvez saberem o que isso quer dizer. há pessoas que me julgam pelo meu blogue apesar de nunca me terem realmente conhecido. e eu, perante isto, o que digo?
pouco posso dizer, caros amigos. há pessoas que valem nada ou tão pouco que mais parecem dias de chuva no meio das férias de verão. um grande aborrecimento que se supera com um bom livro ou uma boa conversa. ou um belo almoço enquanto a chuva sibila no mar. ou seja, essas pessoas não têm importância. reforçando a expressão: não têm importância nenhuma.

os mais atentos dirão que este post lhes confere alguma importância. é certo. mas o nada também tem a sua narrativa. e esta conversa já é longa, caros amigos. começou com umas cartas anónimas na era pré-internet, com uma escrita bastante criativa. o que pode ser mais reles do que alguém que nos envia cartas anónimas?

terça-feira, 12 de setembro de 2006

do "náine iléven", como se escreveu na voz do deserto

a única certeza que tenho sobre o onze de setembro é o número brutal de vítimas. uma tragédia indizível. um horror. tudo o mais: culpados, estratégias, o presente e o futuro da luta anti-terrorista, as intenções do extremismo árabe e dos estados unidos, etc - são dúvidas que me assaltam a cada documentário que vejo, entre as dezenas que têm passado nas televisões portuguesas. a polémica coloca-me dúvidas. há muita coisa por explicar. muita coisa mesmo. rezemos então pelas vítimas. pouco mais há a fazer por ora. sou afinal hoje uma vítima da informação. uma vítima sim mas sem a sua fé abalada.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

volver

volver, de pedro almodóvar, é um filme soberbo. não me parece que chegue ao nível de habla con ella mas está certamente no mesmo patamar do genial todo sobre mi madre. a cena em que "raimunda" volta a cantar (na foto) toca no mais sublime que o cinema nos pode dar. volver é uma história de amor entre mulheres, num mundo em que os homens as desiludiram e traíram. é uma narrativa de reencontros, de ilusões que nos encantam, de momentos deliciosos de comédia e de drama, numa mistura que só almodóvar parece saber fazer. carmen maura regressa em alto nível e penélope cruz revela-se uma actriz que ficará certamente eterna.

é sempre preciso voltar. o passado precisa continuamente de ser reinventado. porque o amor subsiste. porque o amor acaba sempre por vencer.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

estamos à do jorge branco

cantar pela noite fora com os amigos. juntam-se estranhos. ajudam ao cante. as vozes não secam. molham-se as gargantas. e a cantar afastam-se tristezas.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

vende tudo e segue-me

deveríamos todos um dia ver o nosso lugar ocupado, o nosso lar devassado, a nossa mala vazia, o nosso computador partilhado. perder não faz mal nenhum. sabe bem aspirar à simplicidade das coisas. ter pouco para ser muito. este é o meu idealismo para hoje.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

deste blogue

escrevo e reescrevo o post. auto-censuro-me. duvido. volto atrás e avanço. acredito. um diário íntimo como este é sobretudo uma prova de fé.

terça-feira, 5 de setembro de 2006

good morning

era uma outra forma de te amar
um gesto no escuro uma carícia
que se prolonga até ao teu acordar
um bom dia em forma de beijo
a tua respiração adormecida
era uma outra forma de te amar

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

destinatário

antes cuidava dos endereços letra por letra, número por número. verificava cuidadosamente se não havia erros. hoje, quando te mando uma carta, isso pouco importa. não me interessa se o carteiro te irá encontrar. estás em toda a parte. as minhas palavras já não vão escritas. elas voam e o envelope flutua. encontrar-te-á numa qualquer eternidade. tenho a certeza.

domingo, 3 de setembro de 2006

subitamente

diz-me apenas se aquele sorriso trazia a claridade do amanhecer ou a escuridão da noite. diz-me apenas o que significava essa tua expressão. o que diziam os teus olhos. porque me olhaste assim. quero dormir. diz-me, por favor.

sexta-feira, 1 de setembro de 2006

o teu nome

o problema da poesia não é a rima ou os versos interpolados. é saber como respiramos a ler um poema. por quantos segundos conseguiremos suster a respiração antes da aparição do teu nome.