quarta-feira, 29 de setembro de 2004

os balcões sucessivos sobre o rio

"(...) Importa-me é o curso do dia e da noite
Vou andar um bocado nos caminhos
é pela hora em que não há ninguém
nudez desprevenida dos meus dias
mas só de noite desço até ao mar após
as sete horas da tarde hora crepuscular
os cheiros confortáveis e antigos
imagens dum lirismo fraudulento
um conforto algum tanto apreensivo
coisas que desde a infância a construíam
Mudo de opinião continuamente
espero o teu regresso pela tarde
e cuidadosamente velo a minha cólera
A vida é para mim pesar de pálpebras
leitura de discursos no outono
na casa abandonada e submetida à chuva
Regresso afinal aos próprios hábitos
sorrisos de mulheres sobre a areia
sou fiel à tristeza e pouco mais
e meto então um lenço num dos bolsos
que cheira ao perfume dos pinheiros
Ave de alarme sou deixem-me só
sou um contemporâneo assisto a tudo
os sinos vesperais nos dias de verão
o cão que passa numa encruzilhada
um cântaro que racha inexplicavelmente
confundido no hálito do mar
a minha saudação aos infantes do medo
crianças que iniciam o andar (...)"

ruy belo

domingo, 26 de setembro de 2004

não dá para acreditar

fernando negrão diz que é preciso fazer mais pela protecção das crianças em risco. que surpreendentes declarações, doutor.

como chegou a essa brilhante conclusão? também foi visitar a figueira?

diz-lhes, senhor

não é apenas chocante a romaria domingueira a figueira, portimão, local da tragédia de joana.

é nojento. as pessoas que lá foram não sabem o que fazem.

quinta-feira, 23 de setembro de 2004

há um ano



"nunca o verão se demorava assim nos lábios e na água.
como podíamos morrer, tão próximos e nus e inocentes?"

eugénio de andrade

terça-feira, 21 de setembro de 2004

na sombra



as tuas palavras são luz.

domingo, 19 de setembro de 2004

revelações de fim de semana

"everybody says i'm a lonesome kind of guy
i've been defeated by them all
if they can find me
i'm done
everybody knows that it really doesn't matter at all
all the good things that I've done
i'm up against the wall
how come my file has been deleted"

phoenix - alphabetical

sexta-feira, 17 de setembro de 2004

como te chamas?

perdi o meu nome quando o disseste pela última vez mas podes chamar-me silêncio. não o poderás dizer na cidade nem no mar porque é um nome sem som. nessas alturas chama-me ausência, porque eu não estarei lá para te ouvir. as árvores e os pássaros falarão por mim. entrega-lhes o meu nome que levaste ao partir.

domingo, 12 de setembro de 2004

porque é que demoraste tanto?



o regresso, andrei zvjagintsev

quarta-feira, 8 de setembro de 2004

paisagem

sem ti, há poucas coisas que façam sentido. talvez a poesia, o silêncio, o céu da tarde. talvez o mar. mas as cores são diferentes. a tua luz desapareceu.

e vives em mim sem eu querer, como uma paisagem que me deslumbra de súbito.

(o que é o amor?)

idealista, eu?

gosto do manuel alegre. gosto das suas palavras de esperança. e se ele um dia governasse, gostava de ver. gostava. talvez para sorrir um dia ao olhar para o meu país e para quem o governa. sem sebastianismos. com clareza e acutilância de espírito.

sim, o meu maldito idealismo teima em se afirmar.

sexta-feira, 3 de setembro de 2004

resposta

"- até quando vais ficar assim?
- não sei.
- não sabes?
- não.
- nem uma previsão?
- a meteorologia anuncia os teus sorrisos?"

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

prece

às vezes, mesmo ao falar de deus eu me esqueço de deus, como escreveu ruy belo. esqueço-me do seu amor infinito. esqueço-me de que ao olhar por mim e ao me dar a sua mão, sempre, eu sou melhor. depois do esquecimento rezo. posso acreditar então que a felicidade é estar junto dele. é esperar com ele pelos dias bons.