domingo, 21 de novembro de 2004

poema da meia-noite

versos de um dia que passa
esculpidos em silêncio

(quem vive no silêncio
fala no silêncio e
ouve no silêncio)

(mas olha, apesar de tudo
há um novo dia que surge
da quietude dos gestos
das palavras)

à meia-noite
a solidão é sobretudo
silêncio

sexta-feira, 19 de novembro de 2004

lumen vitae


esquinas



olhar para ti, feliz, é ser o mais feliz dos homens
é sorrir estupidamente pelo metro fora
é amar para além da dor

ver a tua mão entrelaçada com a vida
é saber que posso repousar na tua ausência de mim
é ver-te partir e querer ficar com o que tu deixas para trás
com o vazio dos teus passos

é a súbita tristeza por um tempo que não existiu
uma saudade imensa do teu futuro
um adeus tão breve quanto o sopro do entardecer

não és por isso somente a mulher mais bonita do mundo
és também a mais amada

quinta-feira, 18 de novembro de 2004

resta perguntar

ser diversamente maltratado num curto espaço de tempo dá sempre que pensar. no fundo, a questão é: o que fizemos para o merecer? não vou fugir à regra. acho que não fiz nada. os meus amigos conhecem a minha propensão para mediador, essa zona lamacenta e repisada da existência humana. era decerto melhor tomar partido. era melhor deixar a violência como está. não meter a cabeça na toca do lobo.

e depois? somos traídos. vítimas da desumanidade de quem é desleal. daquela pessoa pela qual púnhamos o braço e a cabeça na fogueira. mas a confiança serena de quem procura um caminho de paz mantém-se.

o que ganham os que me magoam?

quarta-feira, 17 de novembro de 2004

é isto a blogosfera

ser hora de dormir. a vida não variar muito. falar com poucas pessoas. falar poucas coisas. não ter solução para dois ou três problemas. ter saudades de alguém. estar frio. ter os pés gelados. ter pouco ou nada para dizer. perguntar para que serve, para que tenho afinal este blog.

escrever este apontamento e publicá-lo no minuto seguinte. bendizer o poder da palavra.

o que é o amor, maria

"Meu amor
eu nem sei te dizer quanta dor
mesmo a noite não sabia
o que o amor escondia

minha vida
que fazer com minh'alma perdida
foi um raio de ilusão
bem no meu coração

e veio com tudo
dissabor e tudo
veio com tudo
dissabor e tudo

eu sei,
que eu não sei viver sem ela

assim,
um simples talvez me desespera
ninguém pode querer bem sem ralar
não há nada o que fazer
amar é tudo"

djavan

segunda-feira, 15 de novembro de 2004

domingo, 14 de novembro de 2004

literatura

leio pouco. penso demais. preciso de parar, de quando em quando. para folhear algumas páginas soltas. esquecer quem sou. reinventar-me nas letras. na arte de outros mundos. de outras vidas.

ler é viver mais do que uma vida. sem nunca sairmos de nós.

terça-feira, 9 de novembro de 2004

amizade

incluir-te nas minhas preces é a única coisa que posso fazer por ti. depois de o pedires em lágrimas, com a voz rouca de emoção, é a única coisa que não posso deixar para amanhã. beberei uma vez mais dessa água que é fonte de vida. beberei para te inundar do seu amor.

declaração de paz

tenho uma dor imensa na perna. o sentido da vida é ultrapassar a dor de sermos. reconhecermos o nome da salvação.

sexta-feira, 5 de novembro de 2004

por onde navegas, ulisses


1 Coríntios 13:7-8

"O amor suporta tudo, acredita sempre, espera sempre e sofre com paciência. O amor é eterno."

naquele instante

e de repente estavas ali. sentaste-te ao meu lado. milhares de palavras atravessaram a minha boca e eu apenas sentia uma vontade imensa de estar em silêncio. de respirar uma vez que fosse em paz. por estares ali e eu não precisar de me preocupar contigo. por estares ali e eu poder fechar os olhos com a certeza de que não me abandonararias naquele instante.
não olhei para ti para não ver como ia deixar de ver-te. e depois parti.

e agora, sozinho, espanto-me com a forma como te amo. questiono até se deus não poderia fazer mais por mim, esquecendo-me de que ele já tudo fez. apareceste na minha vida sem haver qualquer razão para isso. mudaste a minha vida por existires. e eu amo-te sem saber porquê. na certeza de que nunca me amarás. de que nunca saberás o que sinto por ti. e a felicidade de amar multiplica-se em paciência, em tranquilidade, em confiança. de que o que sinto basta para acreditar na vida. não há niguém como tu. nada como a tua luz. és e serás sempre o meu amor. até aquele dia, em que naquele instante sorrirmos e dissermos. vamos.