sexta-feira, 30 de julho de 2004

último adeus

"abraço-te com força antes da morte
sorriso frio com suor ao meio
olhos parados pela curiosidade
a face fácil da destruição
vestido que te leva quando o teu corpo suave
malvada cor de malva que me salva
antes que me dissolva na sonora selva
das cores da alva aonde o sol já silva
adeus regaço de que a custo me despeço"

ruy belo - a margem da alegria

adeus

deixa. o silêncio substitui-nos para sempre.

mas há alguém que acredite nisto?

santana lopes é o primeiro-ministro de portugal. milhares de pessoas (sôfregas) pagam, no mínimo, doze contos (!) para ver a madonna. o vocalista dos fingertips tem 16 anos de idade e a sua escritora favorita é margarida rebelo pinto. paulo portas é o primeiro-ministro-sombra de portugal. milhares de pessoas deslocam-se a grande velocidade para o algarve para auxiliar no combate aos fogos (ah, desculpem, para passar férias).
num país onde se compram submarinos e não canadair, tudo pode ser mesmo possível. comovemo-nos com o euro, com as lágrimas de ronaldo e as mãos nuas de ricardo, mas não vertemos uma lágrima pela população de cova da muda, onde o filipe, sozinho, conseguiu que o fogo não engolisse a povoação.

és grande, filipe.

quinta-feira, 29 de julho de 2004

interiormente

e qual a razão de fundo para me sentir assim? não conseguir resolver os dois ou três problemas que me perturbam a que acresce a ausência de sentido que grassa nestes dias. e também a distância que sinto em relação a mim. chega?

(nada disto se relaciona de uma forma clara com o facto de ter gostado muito de ouvir hoje o manuel alegre na rtp1. gostei muito. haja esperança. haja sonho.)

terça-feira, 27 de julho de 2004

na margem da alegria

há duas ou três coisas que precisava de resolver. (penso enquanto olho o rio, deixo-me vencer pelo cansaço, fecho os olhos...)

segunda-feira, 26 de julho de 2004

monólogo

porque é que não falamos se a vida pode acabar amanhã? porquê? porque é que o silêncio não se transforma em tempo? tempo para olhar-te nos olhos. para te explicar como tem sido a minha vida. para te contar como tantas vezes o céu tem o teu rosto e o sol me sorri com o teu nome nos lábios. mas porquê? se a vida podia ser simples e não é. se a vida termina abruptamente e tudo parece incompleto. se nunca te tive e tantas vezes te perdi.

sexta-feira, 23 de julho de 2004

na morte de paredes

os dez dedos que tocaram portugal nunca conseguiram esconder a profunda tristeza de um homem, de um país. na sua partida digo apenas obrigado. que não seja um dia preciso que outros como paredes pratiquem num pente a sua arte, encerrada numa prisão pelo fascismo. esta é a liberdade maior. a que vem na nota de uma guitarra.

quinta-feira, 22 de julho de 2004

questão pertinente

e se a espera não tiver fim, terá valido a pena?

quarta-feira, 21 de julho de 2004

o estado a que isto chegou

confesso. fui ao ikea. fui. fui mesmo. não era mais do que a minha obrigação de filho. e fui. e descobri coisas muito interessantes. os portugueses devem ser doidos ou masoquistas. doidos se gastarem o seu dinheiro com o mesmo entusiasmo com que anotam todas as referências, se deitam uns bons momentos nas camas ou descansam alegremente de pés descalços nos sofás. masoquistas se fazem isto tudo sem ter dinheiro para tal. o que é que querem? os portugueses estão felizes. não estão a ver a causalidade directa entre santana no poder e comprar uma nova estante para a sala? dizem que os espanhóis gostam de mexer em tudo. aos portugueses apenas não deixaram mexer durante muitos anos. agora é um ver se te avias. a animação é tal que roça o absurdo. roça e irrita. sobretudo quando a luz se apaga subitamente e as pessoas não perguntam se aconteceu alguma coisa grave. perguntam apenas: "isto não vai fechar pois não".  não, não vai fechar nunca. haverá sempre mais.

segunda-feira, 19 de julho de 2004

nascimento

por vezes lembro certos dias felizes em que a frescura da manhã se deixava invadir pelo sol de junho. como caminhava de olhar baixo. com a certeza de que estarias no mesmo sítio de sempre no momento preciso em que levantasse a cabeça.

mais ruy belo (sempre?)

"o amor só se conserva quando a solidão
de cada um dos dois é respeitada
mesmo que isso exija a implacável destruição
dos que não deixariam de se destruir
se dessem um ao outro a mínima das mãos"
 
encontro de garcilaso de la vega com dona isabel freire, em granada, no ano de 1526

sábado, 17 de julho de 2004

surpresa

é estranho ler o nome de taizé no expresso, na surpresa de saber que maria de lurdes pintasilgo estava na oração da manhã da comunidade quando soube da notícia do 25 de abril. estranho ver como tudo está tão próximo de nós. tão longe do que nos separa.

para que serve o poder?

a experiência é saber como as coisas aconteceram. saber que nada se repete. saber que pouco sabemos. esperar. ponderar. decidir.

vestígios


 
"deixo passos deambulantes em cidades cintilantes"

sexta-feira, 16 de julho de 2004

declaração de princípios

"eu canto os amores e a morte a apoteose e a sorte"
 
ruy belo

acima de tudo uma homenagem

a margem da alegria de ruy belo é um dos poemas maiores da poesia portuguesa. sem pretensões de dizer algo de novo, este blogue é apenas uma homenagem a esse longo respirar.
 
assim, estamos desde hoje na margem da alegria. em busca das palavras e dos silêncios. em busca de inês e de pedro. junto ao mondego ou no tejo. até quando estaremos aqui? até quando?