quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

eu e tu

Nós

Tal como o que importa num poema é, como
escreveu Horácio, usar uma palavra conhecida
como se fosse nova, limpando-a do bafio do uso,
também no amor o que importa é olhar o rosto
que se conhece como se nunca o tivéssemos
visto, descobrindo de cada vez a surpresa de
um encontro em que a beleza nasce de uma
súbita sombra no modo como o olhar se desvia,
ou dessa luz que um entreabrir de lábios
derrama pelo mundo. Posso dizer: «Amo-te»;
e é como se nunca o tivesse dito antes; ou
ainda: «As tuas mãos!»; e o objecto que designo
transforma-se no verbo que faz avançar a vida,
para além da gramática e dos significados.


nuno júdice

1 comentário:

Leonor disse...

estou boquiaberta com a força das coincidências..