Passa os dias sentado à porta
Vasculhando por entre as nuvens a solidão
Houve um tempo em que olhava o mar
Por detrás de uns óculos já muito graduados
Doía-lhe o cansaço e o estremecer da luz
Conhecia tão bem o horizonte que fazia escala ao segundo.
Dizem que sempre amou e foi amado
E que perdura ainda no seu rosto gente passando à hora certa
Gente com olhos, boca, narinas,
Gente normalmente apressada arfando sorrindo
Agora
Conhece um milhão de pássaros pelo nome
E ao anoitecer adquire a forma de uma ilha remota
Rodeada de silêncio náusea agonia.
Por vezes uma cidade ocupa-lhe os olhos
Construída na longitude do sonho
Levantada todos os dias às seis horas da manhã
Uma cidade perdida
Cheia de aranhas, desempregados, enforcados, vulcões.
Já não lhe fazem os gestos de outrora
E ele bem sabe que a idade é só uma outra forma de esperar.
Deita-se, adormece,
À beira-mar lembra o velho ofício da melancolia
E nenhuma voz passada vem-lhe devolver
A arte de seguir cantando.
Ricardo Pereira
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
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