quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

para reparação

não ter o nosso computador é um pouco como estarmos longe de casa e não nos apetecer escrever uma linha nessa terra estranha para onde a avaria nos enviou.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

da tristeza

estar triste é o contrário de estar morto.

viagem

é noite. o jazz desliza pelo quarto. sedutor. malandro. irrequieto. estou de repente numa outra cidade. num bar a meia-luz. por entre olhares cruzados e sorrisos que mal disfarçam a alegria da vida. o jazz é um coração sem compasso. desculpe, mais um licor. queres dançar?

o senhor zaqueu

entre saber quem sou e no que acredito, entre uma ou outra divagação mais existencial, entre o teu sorriso e uma saudade imensa do teu cheiro, recebi a oportuna visita das finanças. um ou dois funcionários mais zelosos que não acharam graça ao meu nome e me decidiram punir com o que de pior há para aquelas bandas: uma alteração gerada por um processo automático, que dispensa apresentações dos nomes dos senhores e a suposta notificação ao cidadão. com efeitos retroactivos ao tempo em que me julgava cumpridor e afinal era um criminoso sem vergonha. quem não teve já um problema com as finanças? saberão decerto do que falo. sentimo-nos de repente enganados por tudo e todos, encurralados nas malhas de uma trama kafkiana infernal e repleta de artigos de decretos-lei e pormenores de jure e de facto.

curiosos, perguntarão se me safei (em bom português). olhem, vou-me safando, aos poucos, com paciência e muita cautela. com pouca vontade de escrever e um tanto desanimado com a vida e a labuta diária. confiante na minha boa-fé. perdoando infinitamente os publicanos desta saga. na certeza de que haverá final feliz. com mais ou menos euros no bolso. cumpridor e sorridente até à próxima visita do senhor zaqueu. como está? passou bem?

domingo, 9 de janeiro de 2005

no público de hoje

"São precisos mais de três minutos de silêncio para escutar a voz misteriosa da natureza, dos homens e de Deus. O ser humano é o único animal capaz de compaixão, de solidariedade e de conversão. O encontro ecuménico de Taizé - um dos maiores acontecimentos europeus aberto ao mundo realizado em Lisboa - revelou no longo silêncio, no canto, no diálogo de povos que ainda recentemente se guerreavam, que onde aumenta o perigo, pode crescer a salvação."

frei bento domingues

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

da doença

são longas e absurdas as horas em que repousamos doentes. a doença é doentiamente absurda. há momentos em que acordamos, a arder em febre, a perguntar se ainda estaremos vivos. mas o mais absurdo de tudo, para mim, não é a doença. é a tristeza que se lhe mistura. é a tua memória fugidia. o teu cheiro. o precisar de te ver, de te ter ali ao meu lado.

é a tua ausência que me faz duvidar da urgência da cura.

uma questão de vozes

inconscientemente (um post que começa com um advérbio traz água no bico) este blogue foi sendo escrito cada vez mais para ti. às vezes para todos, é certo, mas a maioria das vezes era para ti quem escrevia. como não faço a mínima ideia se me lês, de que serve explicar quem tu és?

e por isso, a todos os que me perguntam para quem afinal escrevo, sentado nesta margem, respondo: escrevo para ti.

domingo, 2 de janeiro de 2005

para 2005

deve-se começar um novo ano com pelo menos um plano bem definido. como por exemplo voltar a ver a turma do liceu.

das rezas

diz a voz do deserto que "Com preces tão altruístas o exército de Taizé corre o risco de interceder por tudo menos pelo Planeta Terra." sem pretensão de qualquer tipo de defesa, pergunto: o que pode haver mais concreto do que um compromisso para toda a vida de uma comunidade que vive junto dos "homens que são vítimas do homem". o que pode haver mais real do que uma comunidade que nunca quis ser mais do que aquilo que é: uma esperiência de origem protestante que busca no "hoje de deus" ser uma parábola de comunhão. estarei equivocado? serei um católico místico? e não precisa este mundo de um pouco de mística? o que são então as tuas orações pelas "pequenas maleitas" a um deus que morreu e ressuscitou?

oração

estar de volta não significa sair do ponto onde estávamos. tal como ter sido testemunha de uma imensa alegria não corresponde necessariamente a uma súbita mudança interior. o tempo o dirá. ou uma outra forma de dizer que uma certa melancolia teima em persistir. teima em desanimar quem teve forças para tanto. e não as teve para te esquecer. para esquecer o teu nome.

para te tirar do silêncio das minhas orações.