Já pensaste, meu amor, na importância
De uma mão?
Antes de pegar a tua mão quantas vezes
Vagueei como uma água sem destino,
Quantas vezes vacilei nesta cidade ferido?
Era um pássaro sem sentido que tinha
Acordado no deserto sem diferenciar
Coisa alguma, sem olhar nenhum ponto
Como se o céu estivesse vazio.
Já pensaste se não fosse a tua mão?
Esse fogo sem medida que se ordena
Na alma e nos puxa para dentro do rio
Como se agora as águas já não se dispersassem
Mais. E os pássaros que voltaram do deserto?
A tua mão foi o meu farol, foi a semântica que
Hoje convoco do sangue para te escrever no
Poema. Percebes agora o acto de pegar a tua
Mão, simples e doce, como a criação o foi
Bem antes de nós? Percebes, amor, que o acto
De pegar na tua mão mudou o mundo e será
Lembrado até que a morte nos separe e talvez
Bem mais para além dela?
Tinha muitas prendas que te queria dar: uma
Flor, uma lua embalada, um perfume que gostasses
Um palácio onde os trovadores declamassem
Eternamente debaixo das estrelas.
Mas não te quero dar nada, uma mão chega
Para enganar a morte, uma mão basta. E depois
Nunca me entenderias se te desse algo que amanhã
Já não existiria.
Compreendes amor, a importância de uma mão?
Esse acto voluntário que sucede ininterrupto
Pela nossa vida de escolhas? Deste-me a tua mão,
Eu dou-te a minha mão e seremos felizes no
Deserto mais seco da terra, no abismo mais escuro,
No céu mais cinzento, no mar mais revolto.
Não tenho acesso ao interior da tua mão, não
Sei do que é verdadeiramente feita. Fico-me
Só pela sensação de te tocar e de olhar a minha
Mão na tua…
Ricardo Pereira
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
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