(...)
Quão fácil era ao corpo a sepultura
mas nós os que dos peixes somos
os que com a tormenta afinal todos nos perdemos
temos por simples pátria a língua portuguesa
e por isso por arma temos estar de pé
opor ao sol a face incorrigível
e darmos a palavra aos que não têm voz
pois ao silêncio os têm submetidos
Poema de palavras não de paz mas de pavor
Construção linguística difícil aparentemente
em que em troca da vida e do triunfo me tornei teu ínfimo cultor
sob essa superfície de impassível frialdade
sei que se oculta a voz não da humanidade
palavra do mais dúbio dos significados
mas dos homens que dostoievski viu ofendidos e humilhados
Quente e humana embora na aparência fria
que a todos se destine a poesia
ruy belo
"primeiro poema de madrid"
transporte no tempo
1973
terça-feira, 21 de março de 2006
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